O segundo pior assassinato em massa da história de um país armado até os dentes
O massacre numa escola infantil de Newtown, no estado de Connecticut, deixou 26 pessoas mortas, entre elas 20 crianças de 6 e 7 anos, 12 meninas e 8 meninos, cada um deles alvejado mais de uma vez. O asssassino é Adam Lanza, 20 anos. Sua mãe, Nancy, que trabalhava na escola como professora, também foi morta. Adam cometeu suicídio. Seu irmão Ryan, 24, está sendo interrogado.
Adam, segundo alguns relatos, primeiro matou a mãe na casa que dividiam. Depois, foi de carro para a escola, onde chegou às 9h30. Vestia um colete à prova de balas. E então começou a matar com um rifle semi automático para combate (ele também tinha dois revólveres). Ele usava a identidade do irmão mais velho, Ryan. Isso levou a polícia a identificá-lo inicialmente como Ryan.
Até o final do dia, eram ignorados os motivos pelos quais Adam fez o que fez. Ele morava com a mãe numa casa ampla em Newtown, num terreno de 2 acres, avaliada em 600 mil dólares. Segundo alguns relatos de pessoas próximas, era um nerd — um aluno brilhante mas, ao mesmo tempo, completamente isolado dos colegas. Familiares disseram que sofria de uma doença mental (não se disse qual, especificamente).
É a segunda pior ocorrência desse tipo na história dos Estados Unidos, onde assassinatos em massa são uma tradição. A primeira é a da Virginia Tech, em 2007, com 32 vítimas fatais. Nos últimos 30 anos, houve 61 casos. Só em 2012, foram seis, com 110 pessoas mortas e feridas (sem contar a chacina de hoje).
Um garoto de 8 anos contou à CNN como escapou. Ele estava a caminho da diretoria quando avistou o atirador. “Eu ouvi tiros no corredor e um professor me puxou para dentro da sala”, disse. Outros meninos descreveram o barulho dos disparos como similares a chutes na porta ou estouros de bombas. “Foi horrendo”, disse uma mãe. “Todos estavam histéricos. Crianças saíam ensanguentadas. Não sei se tinham sido atingidas, mas estavam cobertas de sangue”.
Obama fez um pronunciamento em que chorou e mandou suas condolências. Segundo seu porta voz, Jay Carney, não é hora ainda de discutir o controle de armas nos EUA.
Por que não? O que falta acontecer? Quando será hora?
Em 2008, Obama afirmou: “Não vou tirar suas armas”. Entretanto, prometeu aperfeiçoar a fiscalização. Ao invés disso, assinou autorizações para o porte em parques nacionais e na rede ferroviária Amtrak. A venda de armamentos, aliás, aumentou quando ele foi eleito da primeira vez (corram para as montanhas, cavem trincheiras: um muçulmano na Casa Branca!).
Atualmente, calcula-se que haja 90 armas para cada 100 americanos. Segundo uma pesquisa do ano passado do instituto Gallup, apenas 26% da população apoia o fim da venda legal. A taxa de associados à NRA, National Rifle Association, cresce exponencialmente há décadas. Hoje são 4.3 milhões de sócios (fundada em 1871, a NRA tem um lobby poderoso e advoga a segunda Emenda da Constituição, que garante “o direito das pessoas manterem e carregarem armas.”)
Não há uma liderança política relevante em defesa do desarmamento. O prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, é a voz mais ativa. Alguns analistas acreditam que isso é efeito do medo numa nação sempre em guerra. Setores reacionários creem que um arsenal será útil para defender sua família e sua propriedade no caso de um governo tirânico (!?).
A cada chacina, esses grupos invertem a discussão, afirmando que uma população armada se defenderia melhor de um psicopata. As pessoas no cinema de Aurora, no Colorado, que estavam assistindo Batman, estariam mais seguras se portassem seus Colts quando um maluco abriu fogo? Os professores de Newtown protegeriam seus alunos? Os alunos sacariam suas Magnums?
Supondo que o fizessem, qualquer mente relativamente sã entende que seria ainda muito, muito pior.