O prefeito de Porto Alegre Nelson Marchezan Junior é autor de uma molecagem que pode resultar em convite para o confronto.
Marchezan resolveu tirar uma casquinha marqueteira das manifestações convocadas para acompanhar o julgamento do recurso de Lula no caso do triplex no TRF no dia 24.
Numa carta publicada no Twitter e endereçada a Michel Temer, afirmou que existe uma “ameaça de ocupação de espaços públicos municipais pelos diversos movimentos sociais” e que teria ocorrido “menção à desobediência civil e luta propugnadas nas redes sociais por alguns políticos, inclusive senadores da República”.
Solicitou tropas da FN e do Exército “para auxiliar na segurança da população e proteção dos próprios [prédios] públicos municipais, em razão do iminente perigo à ordem pública e à integridade dos cidadãos porto-alegrenses”.
Marchezan quer negar aos apoiadores de Lula o direito de fazer o que ele fez ao longo dos últimos dois anos, saindo fantasiado nas ruas pelo impeachment de Dilma sem ser incomodado.
Em agosto de 2016, estava no alto de um carro de som do MBL, sua tropa de choque, gritando palavras de ordem como “fora Dilma”, “fora Lula”, “fora PT” e “fora comunismo” (!?!) juntamente com milhares de boçais teleguiados.
É inconstitucional e antidemocrático — mas e daí?
O ministro da Defesa, Raul Jungmann, já disse que “pessoalmente” não vê a “possibilidade de emprego das Forças Armadas”. “Se consultado, reafirmarei a desnecessidade”, declarou.
Oficialmente, quem pode pedir isso é o governo, não a prefeitura. Marchezan atropelou o governador Ivo Sartori e causou mal estar no gabinete de crise instalado para discutir as ações de segurança pública para o dia 24.
A ideia era trabalhar com “discrição”, segundo a Rádio Gaúcha, “para não fomentar o conflito”. Dado o grau de vagabundagem e delinqüência do governo Temer, a presidência anunciou que resolveu “analisar” o pleito.
Marchezan jogou gasolina na fogueira. O ato ganha, graças a seu voluntarismo cafajeste, um clima de guerra. Trata-se de um ignorante com iniciativa, tipo de soldado que Napoleão mandava fuzilar.
Ele vive disso. Fiel à delinqüência ideológica do MBL, usa as redes para instigar o apetite da extrema direita. “Se você pertence a certos partidos vermelhos, está proibido formar quadrilha”, escreveu em uma publicação na época das festas juninas.
Num vídeo, atacou os “babacas de sindicatos e partidos vermelhos que quebraram o Brasil e outros lugares do mundo”. E por aí vai.
É filho de um parlamentar que fez carreira na Arena durante a ditadura e que foi líder do governo João Figueiredo na Câmara dos Deputados. Nelson Marchezan pai votou contra a emenda Dante de Oliveira, a das diretas, em 1984.
O filho, ao que tudo indica, herdou a atração irresistível por tanques e homens fardados. Sob o pretexto de proteger seus cidadãos, pode entrar para a história como um fanfarrão criador de casos que transformou uma cidade num campo de batalha.