Publicado no Unisinos
A denúncia papal não tem meios termos: no Vaticano existem “traidores” corrompidos “pela ambição ou pela vaidade”, além de complôs que são como um “câncer” a ser erradicado.
Dom De Mérode dizia que “fazer reformas em Roma é como limpar a Esfinge do Egito com uma escova de dentes”, e Francisco, tendo chegado ao seu quinto ano de trabalho nas reformas e ao seu quinto discurso para os votos natalícios aos colaboradores romanos, explica que “uma Cúria fechada em si mesma estaria condenada à autodestruição”.
O Papa Bergoglio, no seu discurso, lembra que a Cúria deve estar aberta ao mundo, e isso é “muito importante superar aquela lógica desequilibrada e degenerada dos complôs ou dos pequenos círculos que, na realidade, representam – apesar de todas as suas justificativas e boas intenções – um câncer que leva à autorreferencialidade”, um mal a ser derrotado porque ele “também se infiltra nos órgãos eclesiásticos e, em particular, nas pessoas que atuam na Cúria”.
Depois, o bispo de Roma advertiu com dureza contra o “perigo” constituído pelos “traidores da confiança” ou pelos “aproveitadores da maternidade da Igreja”. Quem são eles? Bergoglio parece ter presente casos bem precisos: ele os define como “as pessoas que são cuidadosamente selecionadas para dar um maior vigor ao corpo e à reforma, mas – não compreendendo a altura da sua responsabilidade – se deixam corromper pela ambição ou pela vaidade”.
Além disso, quando são “delicadamente afastadas, autodeclaram-se erroneamente mártires do sistema, do ‘papa desinformado’, da ‘velha guarda’… em vez de recitar o ‘mea culpa’”.
O papa, no entanto, não esquece “a grande parte, a maioria de pessoas fiéis que trabalham com louvável compromisso, fidelidade, competência, dedicação e também santidade”.
Depois, explica que a Cúria deve funcionar como uma antena e deve captar as reivindicações, as demandas, os pedidos, os gritos, as alegrias e as lágrimas das Igrejas de todos os continentes, a fim de transmiti-los ao bispo de Roma.
Francisco listou alguns âmbitos de trabalho, começando pela relação com as nações.
A Santa Sé é uma construtora de pontes e, estando a sua diplomacia a serviço, “se empenha em ouvir, em compreender, em ajudar, em levantar e em intervir pronta e respeitosamente em qualquer situação para aproximar as distâncias e para tecer a confiança”.
O único interesse da diplomacia vaticana é “o de estar livre de qualquer interesse mundano ou material”. Também por isso “foi criada a Terceira Seção da Secretaria de Estado”, que se ocupará dos núncios apostólicos, ou seja, dos embaixadores da Santa Sé no mundo.
Depois dos cardeais e prelados, o papa recebeu os empregados da Santa Sé, ao quais pediu desculpas porque “nós – eu falo da ‘fauna clerical’ – nem sempre damos o bom exemplo”. E advertiu: é preciso agir para que, no Vaticano, não haja mais “trabalhos e trabalhadores precários” ou “irregulares”.