Depois do artigo publicado no DCM apontando a barriga de três veteranos jornalistas, foi um barata-voa. Veja retirou o post em que Augusto Nunes dava vazão a um fake news – a de que Lula havia inventado um encontro da FAO na Etiópia para poder fugir.
Já no início da madrugada, o autor da patranha publicou um artigo para dizer que, como Juscelino Kubitschek, não tem compromisso com o erro.
Isso mesmo. Ele se comparou ao Presidente Bossa Nova.
Nêumanne tirou do Estadão o post “Farsa etíope” e também teria apagado o tuíte em que chamava Lula de mentiroso. Além disso, teria bloqueado internautas que teriam cobrarado dele integridade no exercício do jornalismo.
Augusto, Brickmann (a fonte primária da barriga) e Nêumanne são problemas das empresas em que trabalham e dos seus leitores.
Quem quiser que os aceite.
Mas a barriga serve para refletir um pouco sobre o baixo nível das análises publicadas em veículos da velha imprensa.
Ao insistir na hipótese de fuga de Lula, jornalistas como os três veteranos raciocinam com régua própria, não com a medida usada por líderes de dimensão histórica, caso de Lula e de outros, como Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek ou Dom Pedro II.
Para esses veteranos jornalistas, ao sinal de primeira dificuldade, o caminho natural é fugir ou se render.
Eis aí uma questão de fibra. Alguns têm, outros não.
“Há um mínimo de dignidade que não se pode negociar, nem mesmo em troca do sol, nem mesmo em troca da liberdade”, escreveu Dias Gomes, na peça O Santo Inquérito.
A chance de Lula fugir é zero.
Repito: zero.
Não é profecia, nem torcida.
É resultado de análise.
Lula tem biografia, não ficha corrida, como querem lhe entregar seus algozes, que formam uma aliança perversa, que une velha mídia a juízes fracos e vaidosos.
Pessoas com biografia — e não estou falando apenas de Lula — têm critérios diferentes da maioria dos mortais.
Jogam com a história, não com a conjuntura.
Pensam no amanhã, não nos segundos ou minutos seguintes.
Quando penso nisso, lembro de Sócrates, o filósofo grego que se recusou a baixar a cabeça diante de juízes que o acusavam, injustamente, de corromper a juventude com um método revolucionário de buscar a verdade.
Para os cristãos, uma referência é Paulo, o Saulo de Tarso, grande pensador, independentemente da religiosidade.
Condenado à morte, ele era lembrado de que lhe restavam poucos dias. Dava de ombros: viver era a liberdade de Cristo, morrer era a volta para a casa.
Em ambas as situações, estava bem.
Lula já venceu a campanha de perseguição encetada por setores do Judiciário, em aliança com a mídia parcial.
Se for absolvido, será candidato a presidente, com grande chance de vitória.
Se permanecer em liberdade, ainda que condenado, divulgará a mensagem de um Brasil grande, independente e generoso com as classes sociais excluídas.
Se for preso, será mártir.
De qualquer forma, seu lugar na história está assegurado. Para sempre.
Pessoas assim não trocariam uma fortuna dessas pela fuga.
Como disse, não é uma torcida.
É só deixar a paixão de lado e analisar, com a história na mão.
A velha imprensa deixou isso de lado faz tempo e se rendeu à vulgaridade, para o contentamento das hordas que ainda a seguem, babando, gritando, xingando e agredindo.
O Brasil de Lula é outro.