Em uma enquete na sua página no Facebook, o Mídia Ninja perguntou aos leitores com quem eles se identificavam no bloco dos manifestoches da Paraíso da Tuiuti:
O pato? O trabalhador explorado? A marionete? Ou a mão que manipula a tudo e a todos?
Houve centenas de respostas e, no meio delas, duas chamaram a atenção.
Um dizia: “Eu admito que fui o manipulado, mas caí em mim!”. Outro afirmou: “Eu admito que também fui manipulado, mas já algum tempo abri meus olhos.”
Uma rápida pesquisa na rede social dos dois mostra que um pode estar fantasiando — suas postagens são próprias de quem faz militância de esquerda —, mas o outro parece mesmo arrependido, e é em pessoas como ele que se deve prestar atenção.
É Bruno Gabriel, jovem advogado, formado por uma universidade particular de São Paulo, a FMU, de uma família de caminhoneiros que prosperou e tem (ou teve) uma pequena transportadora. Mora em Osasco, na Grande São Paulo. É evangélico.
Em seu perfil na rede social, se pode ver também que militou ferozmente contra o governo do PT, com postagens como esta:
“Petista só quer saber de trabalhar depois de preso”. Ou: “Lula participando de ato em defesa da Petrobras me lembrou Suzane von Richthofen chorando no enterro dos pais”.
Também disse que o governo de Dilma Rousseff emprestava dinheiro, mas só para quem nasceu em Cuba.
Em 2014, a foto do seu perfil tinha a frase Aécio 45 e, nos dias mais tensos que antecederam o golpe, vestiu camisa da Seleção Brasileira.
Não diz se bateu panela, mas é bem provável.
Sua conversão política, digamos assim, começou na discussão da reforma trabalhista, no ano passado.
Bruno Gabriel parece ter despertado de um sono profundo.
Colocou na capa de seu perfil banner em apoio à greve geral contra a reforma trabalhista e a reforma da Previdência no dia 28 de abril.
Algumas pessoas estranharam, mas outros deram apoio. “Tenho conhecidos na minha timeline que são contribuintes da Previdência Social e trabalham de carteira assinada e são contra a greve. Vai entender essa gente”, comentou um amigo. Bruno Gabriel acrescentou: “Masoquismo, só pode!”
“Cara, tem gente pagando pau pro Dória ser contra a greve. Já viu empresário defender direito trabalhista?”, prosseguiu o amigo. “Eu sinceramente não entendo o brasileiro.” Bruno Gabriel comentou: “Absurdo!”
As postagens seguem na linha de quem não concorda com o que tem acontecido com o Brasil depois do golpe.
Até que vem o comentário na página do Mídia Ninja, depois da exibição da Paraíso da Tuiuti:
“Eu admito que fui o manipulado, mas caí em mim!”
Abaixo do comentário de Bruno, aplausos, manifestações de carinho. “Ganhou o meu respeito”, disse uma. Outra acrescentou: “Acredito nisso, sabia?!”, para uma terceira arrematar: “Eu também, Sêmela. Antes tarde do que nunca!”
Bruno Gabriel faz parte de um contingente da população que não é engajado politicamente e, por isso, tem papel decisivo nas escolhas do País.
O engajado segura a peteca — é não é fácil lutar por democracia —, mas quem decide que time vai jogar é o brasileiro como Bruno.
É o eleitor que elegeu Fernando Henrique Cardoso e também escolheu Lula para sucedê-lo.
Pode ter ido para as ruas pedir a cabeça de Dilma, mas pode voltar para lá agora e ajudar a conter o golpe.
Lula, que é certamente o político mais habilidoso desta geração, sabe bem o que representam pessoas como Gabriel.
Tanto que, em uma das etapas de sua caravana pelo Brasil, ao discursar em Campos de Goytacazes, no Rio de Janeiro, disse como as pessoas que se opuseram ao golpe desde o início devem tratar os antigos batedores de panela.
“Aqueles que foram bater panela, aqueles que foram para as ruas apoiar o golpe, não têm mais panela para bater. Estão batendo a cabeça na parede de arrependimento. Não vamos tratá-los com indiferença. Vamos estender a mão e dizer ‘vem para cá, companheiro’”, disse.
Pessoas como Bruno estão por aí, à espera de um aceno, talvez aqui mesmo nesta página do Diário do Centro do Mundo.
Não podem ser tratadas com indiferença.
O desfile da Tuiuti pode, em razão disso, ter o efeito de um despertador.
Na mente do ex-paneleiro, mas também naqueles que resistem ao golpe desde o início.
A arte pode ser revolucionária, mais do que mil palavras.
Funciona muito melhor do que o panfleto.
Com a apresentação esteticamente perfeita da Tuiuti, as pessoas que bateram panela podem, enfim, ver o que sempre esteve sobre nós, mas alguns não tinham se dado conta:
Há uma mão grande manipulando os fatos, para esconder a verdade, e enganando a todos para bater-lhe a carteira.
Ninguém merece.