Publicado no Justificando
POR LEONARDO MOTA COUTINHO
O que está por trás de uma intervenção na “capital da imagem” do Brasil quando tantas outras cidades estão em situação mais grave em termos de violência?
Natal. Salvador. Goiânia. Porto Alegre! A-ra-ca-ju? Todas em situação pior segundo os dados disponíveis. Nenhuma delas tem o poder midiático de que se precisa. Para quê? Uma festa de motivos. A narrativa é ligeira: “o Rio está nas mãos dos bandidos!” E plim-plim: “a solução pro nosso povo eu vou dar”!
Para vender a imagem de que o Rio era seguro durante a Copa do Mundo de 2014, o complexo de favelas da Maré ganhou a sua intervenção militar. Durou um ano e três meses. O que os moradores ganharam com a intervenção por lá? E o tráfico lá nos dias de hoje como anda? Mais armado e vivo do que nunca.
Claro. O exército – pasmem! – não foi treinado para atuar como polícia, o que lhe dá inclusive desvantagem em terreno urbano; o “modelo militar” já tem sua versão com menor potencial de armamento, afinal temos uma polícia dessa linhagem; em última instância a mobilidade e atuação pouco se diferenciará em termos de melhorar a segurança dos moradores em comparação com o fracasso das políticas públicas de segurança de sempre. Sobre as condições e capacidades do exército: iguais ou piores que a PM.
A não ser na cabeça intoxicada de propaganda de quem acredita cegamente que, para melhorar o estado de insegurança de uma cidade se deve, em vez de mudar urgentemente seu modelo de segurança pública se deva aplicar nele um anabolizante – a popular, sem trocadilho, “bomba”! – tornando mais letal a mesma incapacidade.
Não bastasse o arrepio da lógica, do bom senso, da eficiência – que seria pedir demais a um governo tamanho Temer, o pequeno – o ocupante ilegítimo da presidência afirma a quem quiser ouvir: “Quando houver votos, farei cessar a intervenção”. Os “votos” aqui se referem aos necessários para aprovação da Emenda Constitucional da adulteração da Previdência. A cessação da intervenção se daria como solução já que não se pode alterar a Constituição havendo no território alguma intervenção “federal”. “Dê-me minha Reforma que suspendo a Intervenção”, diz o pequeno.
Há quem pense que os militares são algum tipo de reserva moral do país.
Que bastaria a nós, desajustados civis com nossos jeitinhos, um toque dos militares santificados vindos diretamente de uma galáxia distante onde tudo se resolve com armas, incorruptibilidade e nenhuma política! “Ah, a política é o mal maior que assola o país!” Logo inventam uma intervenção militar nos partidos e… É. Essa história a gente já conhece.
O que tem a ganhar agora Temer com sua festa de manchetes? Rodrigo Maia? Pezão? O Rio? Os fluminenses? Os bolsominions e seus raros e barulhentos parceiros de jornada intervencionista? A perder: de vista! Não acabemos todos cegos, os que ainda enxergamos, eu espero.