A moda que ta pegando forte aqui na Argentina é um grito nos estádios de futebol (e até mesmo de basquete), e em shows musicais de grande concentração popular que diz mais ou menos assim: “Maurício Macri, la puta que te parió, Mauricio Macri, la puta que te parió.”
Tudo começou pela histórica rivalidade futebolística Boca-River/outros clubes. O Boca Juniors domina hoje o campeonato local, graças em parte a sérios erros de arbitragem que além de favorecer o Boca têm prejudicado o River e outros clubes considerados “grandes” como o San Lorenzo, por exemplo.
Ora bolas, Mauricio Macri é torcedor e ex-presidente do Boca, motivo suficiente para associar seu poder a um suposto favorecimento ao clube de seu coração. Pura especulação “geraldina” (ou nem tanto), o fato é que o tal canticozinho vem ganhando cada vez mais repercussão. De fato, preocupa o governo. Já havia vaticinado algum pensador: a voz das ruas desestabiliza.
E a dos estádios? Ganha (ou perde) partidas.
Hoje foi ventilado por um importante matutino que o governo estava estudando interromper qualquer jogo em que a mãe do Macri for “homenageada”. Um absurdo antidemocrático que o próprio governo se encarregou de desmentir.
Menos mal. A teoria governista insiste em estabelecer que tudo não passa de infiltrados militantes kirchneristas com uma clara intenção desestabilizadora. Menos mal.
De qualquer forma, analisando a realidade econômica e política da Argentina Macrista, fica difícil de acreditar nesse tal poder desestabilizador vestido de militância nostálgica de um passado restrito somente aos livros de história. O povo não é bobo… diz aquele velho bordão.
Que a inflação projetada tenha sido de 25% e que os salários tenham subido no máximo 20% (em alguns casos 15%). Que a nova fórmula de cálculo para o aumento das aposentadorias aprovada escandalosamente recentemente pelo Congresso tenha proporcionado um aumento de 5% para as aposentadorias, com uma inflação de 6,5% registrada no mesmo período.
Que a conta de luz tenha subido 1500% em dois anos e que continuem ocorrendo os apagões que prometeram que não haveria mais.
Que o ministro de Finanças de Macri tenha sido o responsável pelo acordo bilionário para encerrar o conflito com fundos abutres e que agora tenha sido revelado que ele mesmo é acionista de uma empresa dona dos mesmos títulos abutres que bateram em revoada, infinitamente mais milionários.
E que, além disso, sua empresa tenha comprado outros polêmicos títulos públicos lançados por sua própria equipe econômica com vencimentos a 100 anos.
Que o ministro da Economia viaje pelo mundo em busca de investimentos para a Argentina, enquanto mantém praticamente “bem guardado” grande parte de seu patrimônio em empresas offshores no paraíso fiscal de Andorra, fato denunciado recentemente por uma investigação do jornal El País, com pouca ou nenhuma repercussão por aqui.
E que muitas outras tramoias venham ocorrendo com pouca ou nenhuma repercussão na grande mídia diz muito mais sobre o porquê da “homenagem” à mamãe presidencial. Muito mais do que qualquer teoria conspiratória de desestabilização kirchnerista. A realidade é muito mais séria.