Instrutor do crime, o dano colateral ao Exército que vira polícia. Por Fernando Brito

Atualizado em 4 de março de 2018 às 7:33
Tropas do Exército fazem patrulha pelas ruas da Rocinha (FOTO José Lucena/Futura Press)

Publicado no Tijolaço

POR FERNANDO BRITO

Estadão dá manchete para algo que não é novo e tende a se agravar à medida em que se repete, ao longo dos anos, o emprego das Forças Armadas como polícia.

“Ex-militares treinam bandidos com táticas do Exército no Rio”, anuncia o jornalão paulista, em matéria assinada por um experiente analista de assuntos militares de sua redação, Roberto Godoy.

Como, há 16 anos, Gilberto Dimenstein escrevia na Folha que “Ex-militares treinam tráfico no Rio“, relatando que ” pelo menos 15 ex-militares treinam bandidos, num total de 265 jovens, o equivalente a metade de um batalhão da PM como o do Leblon”

Os métodos são parecidos com os que descreve, hoje, Godoy: ” Além de ensinar táticas de guerrilha urbana, sobrevivência na selva e manuseio de armas pesadas, eles usam fardas e granadas exclusivas das Forças Armadas, desviadas do próprio Exército. Os exercícios são feitos nas favelas ou em campos próximos aos morros, em turmas de 14 a 20 alunos”.

Os resultados da promiscuidade entre uma força militar e um ambiente criminoso é sempre este, porque acabam saindo dali, depois de oito anos de serviço, homens altamente capazes no manejo de armas e táticas militares e, agora, com contatos e informações que tornam o crime um “mercado de trabalho” atraente.

Não é um “palpite”. É dito pelo ministro da Defesa, o general da reserva Joaquim Silva e Luna, lembrando que as Forças Armadas dispensam entre 75 mil e 85 mil reservistas todos os anos.

“Esse pessoal passa pelas Forças, é treinado, adestrado, preparado e, quando sai, às vezes volta ao desemprego. E eles podem se tornar vulneráveis nesse momento, podem ser cooptados.”

Podem e, como registram as reportagens, são.