Publicado no Justificando
POR TIAGO MUNIZ CAVALCANTI
Marielle Franco, vereadora filiada ao PSOL, foi assassinada no dia 14 de março com três tiros na cabeça e um no pescoço. Muito embora ainda se desconheçam os motivos e os autores dos disparos, as circunstâncias não deixam dúvidas das razões políticas subjacentes: mulher, negra, lésbica, nascida e crescida na favela da Maré, militante da democracia e dos direitos humanos, era crítica da polícia militar e da intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro.
A mobilização em torno de sua morte por aqueles que hasteiam suas bandeiras foi capaz de provocar reações ideologizadas por parte da sociedade tomada pelo ódio e que cresce exponencialmente.
As redes sociais testemunharam uma infinidade de calúnias, injúrias e difamações praticadas por anônimos, políticos e até mesmo juízes que vociferaram, com profundo rancor e antipatia, inúmeras inverdades em relação à vida de Marielle.
O deputado federal Alberto Fraga (DEM), disse que a vítima “engravidou aos 16 anos”, “era usuária de maconha” e teria sido casada com o traficante de drogas Marcinho VP.
A desembargadora do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, Marília Castro Neves, chegou a acusá-la de estar “engajada com bandidos” e ter sido “eleita pelo Comando Vermelho”.
As mentiras foram compartilhadas, tuitadas e retuitadas por milhares e milhares de usuários furiosos que, insensíveis à luta de Marielle pelo reconhecimento de direitos das minorias, passaram a desonrá-la e desacreditá-la.
Não são poucos os pré-candidatos a qualquer coisa que regurgitam blasfêmias aberta e entusiasmadamente. O deputado federal Marco Feliciano, tecendo comentários sobre a morte de Marielle para um programa de rádio, disse que “um esquerdista leva uma semana pra morrer porque a bala não acha o cérebro”.
Se o “Pastor” incita a violência, seu colega de parlamento Jair Bolsonaro exalta a tortura, a política armamentista e a repressão estatal mediante violência. Machista, sexista, homofóbico, adota posições contrárias à igualdade de gênero, à liberdade sexual e a todos os movimentos sociais que lutam pelo reconhecimento de direitos de minorias oprimidas.
Mais recentemente, dois ônibus da caravana do ex-presidente Lula foram atacados a tiros durante sua passagem pelo Estado do Paraná. A violência dirigida ao pré-candidato petista atinge graus extremos, põe em risco sua vida e desvela o quão determinados estão seus opositores.
Sobre a emboscada, Geraldo Alckmin adotou a postura e o discurso dos extremistas ao culpar a vítima e, com isso, fomentar a selvageria e a barbárie: “estão colhendo o que plantaram”.
O ódio contaminou os “moderados”. Contagiou os “liberais”. Tomou conta dos “sociais-democratas”.
É um ódio fascista. Um ódio tirano, autoritário e conservador. Um ódio vazio, desalmado e desumano que vem repleto de ofensas e grosserias. É, conforme palavras ecoadas no Supremo Tribunal Federal, “um mau sentimento, uma mistura do mal com atraso e pitadas de psicopatia”.
Aos humanistas, aos democratas, aos ativistas, aos ambientalistas, aos abolicionistas, aos antirracistas, aos pacifistas, aos nacionalistas, aos sonhadores, a todos aqueles que ainda acreditam num país mais justo e livre de preconceitos, resta-nos unir forças por um propósito comum: se no passado a esperança venceu o medo, que nas próximas eleições o amor prevaleça sobre o ódio.