Publicado n’Os Divergentes
POR HELENA CHAGAS
Apesar de todos os esforços do Planalto, o avanço das investigações sobre Michel Temer e seu grupo expõe a inviabilidade da candidatura à reeleição e a imensa dificuldade de o MDB eleger outro nome, como Henrique Meirelles, para a presidência. É por isso que Michel e companhia estão, nos bastidores, tratando da vida e do futuro, reservando algumas embaixadas para ocupar a partir de 2019, mantendo a prerrogativa de foro que, segundo os artigos 86 e 87 do Código de Processo Penal, inclui também os embaixadores.
Quem prestou atenção na recente dança das cadeiras anunciada no Itamaraty – e informada em primeira mão por Denise Chrispim Marin aqui n’Os Divergentes – percebeu que postos como Lisboa, Paris e Roma não sofreram mudanças ainda. Essas embaixadas têm hoje como titulares ex-ministros e ex-assessores importantes dos governos do PT, como o ex-chanceler Luiz Alberto Figueiredo (Lisboa), o também ex-chanceler Antônio Patriota (Roma) e o ex-chefe do cerimonial de Lula Paulo Oliveira Campos (Paris).
Eles estão há tempos nessas funções e poderiam também ter sido alvo da rodada de trocas que está sendo feita. Só que o Planalto e o MRE estão guardando esses lugares, sem nomear para eles novos titulares agora, para o próprio Temer e outros auxiliares objeto de investigações da Lava Jato, como os ministros Moreira Franco e Eliseu Padilha, que não deixaram seus cargos para concorrer na eleição e, portanto, perderão o foro privilegiado quando acabar o governo. Além desses, outros nomes, como o do próprio chanceler Aloysio Nunes Ferreira, podem ser indicados para esses postos.
Mas como Temer e seus amigos conseguiriam isso? Fazendo um acordo ainda na campanha, ou entre o primeiro e o segundo turno, ou mesmo logo após a eleição, com o candidato vencedor, seja ele qual for. Com exceção de Jair Bolsonaro, com suas reações imprevisíveis, qualquer presidente eleito sabe que precisará do MDB de Temer – que deve fazer uma das maiores bancadas do Congresso – para governar.
Para não passar pelo constrangimento de ter que pedir ministérios ao eleito – o que seria mais difícil de se obter num governo novo recém saído das urnas -, Temer e seu grupo estão facilitando as coisas ao deixar as embaixadas na prateleira. Em vez de Curitiba, Lisboa, Paris e Roma. Nada mau.