Joaquim Barbosa ou a volta do que não foi. Por Arnóbio Rocha

Atualizado em 8 de maio de 2018 às 15:47
Joaquim Barbosa no STF. Foto: José Cruz/Agência Brasil

POR ARNÓBIO ROCHA

O ex-ministro do STF, Joaquim Barbosa, anunciou que não será candidato à Presidência na provável eleição de outubro. Frustra o seu partido, o PSB, que abriu mão de Aldo Rebelo e agora ficou completamente a ver navios, sem nenhum nome forte para o pleito.

O que levará, possivelmente, a uma composição na chapa, ou a dedicar seus esforços para eleger Márcio França em São Paulo, num apoio informal dos tucanos ligados a Geraldo Alckmin.

Importante destacar a trajetória errática da figura histriônica do ex-ministro Barbosa. Ele entrou para o STF pelas mãos do ex-presidente Lula, dentro de um processo de ampliar a representação na Suprema Corte, não apenas de correntes de pensamentos jurídicos, mas também que contemplasse a diversidade do país.

Desde cedo, Barbosa não foi digerível, um preconceito velado, a irritação de ser uma espécie de “cotista”, esquecendo sua carreira jurídica e suas qualidades intelectuais.

Dentro do STF, em seguidos conflitos, ele ficou isolado de seus pares. Até suas dores crônicas nas costas foram motivo de embates. Foi vítima das revistas semanais acusando-o de não ir ao trabalho e de frequentar um chorinho e tomar cerveja nos bares, como se o problema de coluna impusesse a ele um retiro social.

A malícia era pressioná-lo ou a largar ou apressar a relatoria do Mensalão, de que era responsável, projeto tão caro e decisivo aos anseios midiáticos.

Não foram poucas as vezes em que se questionava a capacidade dele em ser relator e presidente do STF. Chegaram a propor até que o STF rompesse a tradição de substituição do cargo. O certo é que Joaquim cedeu.

Nas redes sociais, nas redações, as notinhas, as insinuações contra Joaquim, cessaram rapidamente quando ele assumiu a tese da condenação cabal de todos os acusados do Mensalão.

Adaptou ao seu bel prazer a teoria do “domínio do fato” e liderou a ampla condenação dos réus, o que modificava a jurisprudência de forma radical, mas se demonstrou que foi e é aplicada seletivamente ao PT.

De ministro-problema, Joaquim viveu alguns meses de herói, de implacável justiceiro, virou o “menino pobre que mudou o Brasil” (segundo a Veja), o Batman, o vingador da sociedade e tantos epítetos que se somaram.

O herói da mídia se consolidou, naquele momento, e sua “eleição” à presidência do STF, foi, digamos, “tranquila”. Os mais afoitos, mesmo nas redes sociais, enfiaram o rabo entre as pernas e engoliram o “Batman”.

Mas parece que só foi na aparência.

O dia seguinte estava sendo preparado e veio com mais rapidez do que ele esperava. A lua de mel durou muito pouco tempo, os constantes conflitos no STF e na dificuldade de relacionamento com a imprensa, mesmo com todos os louros que levou, devolveu-o a “seu lugar”.

O ministro se aposentou voluntariamente do STF em julho de 2014, pouco tempo antes de completar 60 anos. Aparentemente iria advogar, com o peso de ser ex-ministro do STF, depois de imbróglio com a OAB/DF, recebeu sua carteira da ordem.

Apenas no fim de 2016 efetivamente abriu um escritório em São Paulo. O que se viu nesses quatro anos é que se tornou um comentarista de redes sociais sem nenhuma relevância.

A sua entrada recente no PSB, o recall do passado, lhe deu uma expressiva pontuação nas pesquisas, com um quadro completamente embaralhado pela questão se Lula será ou não candidato.

Sua desistência pode ter apenas relação com sua própria personalidade, ou com questões internas do PSB, tensões de que se seria apoiado ou mesmo os interesses relacionados com a candidatura de Márcio França em São Paulo.

De toda sorte, os versos do poeta Augusto dos Anjos podem traduzir uma personalidade tão complexa.

“Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!”