POR CLAYTON NETZ
A inadimplência voltou a crescer no primeiro quadrimestre no Brasil e atingiu o recorde histórico de 61,2 milhões de pessoas em abril, um crescimento de 1,9% sobre o mesmo período do ano passado, segundo relatório da Serasa Experian.
Esse contingente é superior à população da Itália e equivalente à soma dos habitantes dos dois Estados mais populosos do país, São Paulo e Rio de Janeiro.
Em conjunto, as dívidas totalizam nada menos de R$ 271, 7 bilhões, o que representa uma fatia de R$ 4.438 por pessoa. A fila dos credores é encabeçada por bancos e cartões de crédito, que respondem por 28,6 % dos débitos, seguidos por água ,luz e gás ( 19,2%) e varejo (12,6%).
Trata-se de um presente e tanto para o governo Temer, anunciado justamente no dia em que comemora o segundo ano do mandato usurpado da presidente Dilma Rousseff. Seguramente, o aumento do calote da população não será divulgado pelo Palácio do Planalto no rol de suas “realizações.”
Esse feito do tragicômico slogan “O Brasil voltou, 20 anos em 2” da propaganda oficial tem tudo a ver com o esforço incansável do governo e de sua equipe em colocar de joelhos a economia brasileira.
Se é certo que nessa época do ano tradicionalmente a inadimplência costuma crescer, em função de obrigações financeiras das famílias com impostos como o IPVA, IPTU e despesas escolares, o patamar recordista se deve primordialmente a um fator de gestão econômica, como o aumento do desemprego.
“O desemprego é a principal variável no aumento da inadimplência”, afirma, Luiz Rabi, economista-chefe da Serasa.
Para ele, as expectativas otimistas do início do ano em relação aos índices econômicos, frustraram-se enormemente com o recrudescimento da deterioração do emprego, ratificado pela taxa de 13,1% do primeiro trimestre de 2018.
A má notícia é de que dificilmente deverá haver reversão desse cenário a curto ou médio prazo. “O crescimento da economia é lento e na hipótese mais otimista a taxa de desemprego deste ano deverá se equiparar à de 2017”, diz Rabi. “O mais provável é que a recuperação fique para 2019.”
Na opinião do economista-chefe da Serasa, a manutenção dos elevados índices de inadimplência continuarão influenciando e servindo como álibi dos bancos para a manutenção das taxas estratosféricas praticadas no Brasil.
Embora esteja a 6,5% ao ano, a taxa Selic está longe de chegar aos tomadores finais de crédito. “A taxa livre média de mercado está em torno de 60% ao ano”, diz. Mais de nove vezes, portanto.
E deverá permanecer nas alturas, não apenas por conta do risco de não recebimento dos empréstimos, mas em função da própria concentração bancária vigente no país. “Os cinco maiores bancos concentram quase 80% do crédito, o que pode ser considerado uma espécie de oligopólio”, afirma Rabi.