Ainda se tem muito pouca informação sobre o que está por trás dessa paralisação dos caminhoneiros. Tem apoio dos empresários, evidentemente. Mas não só da área de transporte.
Para que se mantenham parados, os motoristas têm que ser sustentados.
No mínimo, necessitam de três refeições por dia, e elas chegam, na forma de apoio, aparentemente espontâneo, de quem se cansou dos políticos brasileiros — e são insuflados pelo noticiário incessante de corrupção, com a prisão do principal líder popular sem que fossem apresentadas provas de corrupção.
Quem vai ao acampamento dos motoristas vê senhoras cozinhando para eles. Homens mais velhos entregam alimentos, com aparência de satisfeitos por participar de algo que julgam importante. São cidadãos comuns.
Para eles, é difícil entender por que, nessas condições, Lula foi preso e os outros, ainda não — Azeredo, um cachorro morto, não conta.
A paralisação é um resposta à falência das instituições. É como se os caminhoneiros, representantes do cidadão comum, dissessem: não acreditamos mais em vocês, em nenhum de vocês.
A hostilidade a equipes da Globo contém essa mesma mensagem: não acreditamos no que vocês informam, vocês manipulam, se movem por interesses que não confessam.
O movimento também assumiu uma característica que neutraliza a ação das Forças Armadas, com faixas que pedem intervenção militar.
E nisso parecem ter estratégia bem definida, o que indica que não seriam apenas cidadãos comuns os envolvidos neste movimento. É político e é eficiente.
É claro que as forças militares não estão cumprindo o decreto de Michel Temer que estabeleceu a Garantia da Lei e da Ordem. Estão fazendo corpo mole.
Nas redes sociais, apoiadores do movimento já assumem: a paralisação é por mudanças na política. E como não concordar que são necessárias mesmo mudanças políticas?
As pesquisas mostram que o líder disparado nas intenções de voto está preso e todo o esforço da Justiça se move para que ele não tenha condições de se apresentar como candidato — o TSE deve julgar hoje uma ação que procura afastá-lo ainda mais da disputa.
Mesmo quem não vota no Lula concorda que, até aqui, prevaleceu a injustiça. Para uns, a prisão de Lula aconteceu sem que fossem apresentadas provas de corrupção.
Para outros, se Lula foi preso, outros também precisam ser encarcerados. Como não são, é nítida a sensação de perseguição ou esperteza. Estão tirando Lula da disputa porque não podem vencê-lo.
Nenhum corintiano ou palmeirense ou flamenguista ou vascaíno ficaria satisfeito se o adversário fosse derrotado no tapetão, não no campo de jogo.
A sensação seria que o campeonato acabou, que o futebol não faz sentido.
Transporte-se essa imagem para a política e se faça a pergunta: Num quadro assim, o que resta? Uma mudança completa.
A esse respeito, é preciso prestar atenção no que disse o presidente da Associação Brasileira do Caminhonheiros (Abcam), José da Fonseca Lopes.
Segundo ele, os caminhoneiros querem voltar ao trabalho, mas estão sendo impedidos por “intervencionistas” que, segundo ele, “querem derrubar o governo”. Disse mais:
“Não é o caminhoneiro mais que está fazendo greve. Tem um grupo muito forte de intervencionistas aí e eu vi isso aqui em Brasília, e eles estão prendendo caminhão em tudo que é lugar”, declarou. “São pessoas que querem derrubar o governo. Não tenho nada a ver com essas pessoas nem os nossos caminhoneiros autônomos têm. Mas estão sendo usados para isso.”, afirmou.
A paralisação dos caminhoneiros é o reflexo da falência das instituições brasileiras. É um caso de política, não de polícia.