Se existe algo de positivo (ou pelo menos hilário) nas “manifestações” que levaram ao golpe jurídico-midiático-parlamentar de 2016, é que hoje, à luz dos fatos, podemos rir (para não chorar) do quão patéticas eram as “reivindicações” da nobre classe média brasileira àquela época.
Alguém um dia ainda irá catalogar a profusão interminável de sandices, hipocrisias, disparates e boçalidades proferidas por gente completamente desconectada e incapacitada de fazer uma única mísera reflexão sobre o momento histórico pelo qual estávamos passando.
Gerações futuras olharão para esse recorte de nossa história com o mesmo asco que nós atualmente olhamos para a “Marcha da família com Deus pela liberdade” que antecedeu o golpe de 1964.
Adoradores de Bolsonaro e adeptos de uma intervenção militar, obviamente, não entram nessa assertiva, uma vez que não se enquadram numa definição propriamente dita de seres pensantes.
Assinalado esse parêntese e levando-se em consideração que um dos ilustres advogados do golpe, o velho Miguel Reale Jr, saiu das catacumbas do ostracismo na qual repousava inerte para dizer que o país “melhorou” após o impeachment de Dilma Rousseff, é justo lembrarmos de algumas figuras mambembes dessa era patológica brasileira. Com o perdão do trocadilho.
Para além da maníaca do posto Taís Helena Galon Borges (aquela barraqueira que surtou quando a gasolina bateu os R$ 2,80 no governo Dilma e agora é obrigada a ruminar uma gasolina a R$ 5,00), fico me perguntando por onde anda o juiz da 4ª Vara do Distrito Federal, Itagiba Catta Preta Neto.
O afoito manifestoche e confesso eleitor de Aécio Neves foi o rapaz que se apressou a impedir, via liminar judicial, a posse do ex-presidente Lula como ministro da Casa Civil.
Ferrenho defensor do “Fora Dilma”, o revoltoso juiz demonstrou, em inúmeras declarações nas suas redes sociais, o motivo de sua indignação que o levava a apoiar uma ruptura tão violenta de todo o processo de nossa jovem democracia.
O juiz estava indignado com o preço do dólar.
O que o incomodava não era exatamente a inflação que o aumento da moeda americana gerava no preço dos produtos produzidos a partir de insumos importados.
O que realmente tirava o sono do ilustre juiz era a dificuldade que ele estava encontrando para viajar ao exterior.
A deposição de Dilma Rousseff se fazia necessária porque assim, acreditava o ignorante, o dólar baixaria imediatamente para R$ 2,00 e, aí sim, sua linda família poderia ir para a Disney satisfazer a sua felicidade de pequeno-burguês.
É deprimente.
Adoraria ver a cara do sujeito agora que o dólar disparou e já ultrapassa a casa dos R$ 4,30 nas casas de câmbio. Gostaria de poder explicar ao inocente, muito calmamente, que o estrago ainda só não é maior graças a, vejam só, herança bendita de Dilma Rousseff.
Não fosse os mais de US$ 380 bilhões de reservas internacionais acumulados nos governos Lula e Dilma, o desastre cambial no país seria incalculável.
Tivesse o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, de combater essa crise com o dinheiro de pinga que Fernando Henrique Cardoso deixou para Lula, o cenário seria aterrador.
Adoraria ver a cara de Susana Vieira, Márcio Garcia e tantos outros globais de cabeça oca que embarcaram nessa patacoada.
Às vezes, por um breve momento, tento me colocar na pele dessa gente que foi às ruas, lobotomizados, implorar para que direitos, conquistas e garantias constitucionais lhes fossem subtraídos.
Até onde posso chegar, é uma visão deplorável.
Consumado o golpe e desnudada as consequências que essa irresponsabilidade nos causou, a conclusão maior da qual todos nós podemos chegar é:
Como é triste a sina dos patos.