De férias (físicas) do Brasil, sou cobrado por um amigo para falar do Roda Viva com Manuela D’Ávila.
Pobres de nós.
Mais uma vez, o programa ocupa as redes sociais, mais uma vez por seus defeitos e não por suas virtudes.
Um dos entrevistadores era Frederico D’Ávila (sem parentesco com a candidata do PCdoB), diretor da Sociedade Rural Brasileira, assessor de Jair Bolsonaro nessa área.
Vídeos com os “pontos altos” do show do produtor de grãos estão circulando.
Não há argumento razoável que justifique a presença de um assessor de um candidato concorrente numa bancada de “entrevistadores”.
Manuela, se sabia disso, deveria ter recusado a participação e denunciado esse absurdo.
Frederico é irmão de Luiz Felipe D’Ávila, que tenta ser candidato a governador pelo PSDB há séculos sem sair do chão. Abandonou Geraldo Alckmin.
Quis uma cadeira no Senado, depois na Câmara Federal.
Em abril, disse à Folha que Bolsonaro “quer colocar militares nos ministérios por competência”.
Frederico será ministro “se ele me convidar”. Para ele, Bolsonaro “é um cara risonho, brincalhão, afetuoso”.
“O pavio dele está muito mais longo do que antigamente”, afirma. (Essa questão é de foro íntimo e Frederico, se tiver algum problema, pode buscar o apoio dos movimentos LGBT).
Provavelmente, Manuela foi avisada de que o cidadão estava lá e preferiu não declinar da oportunidade de falar na TV aberta.
Frederico é uma decretação de falência dos princípios da TV Cultura.
Como ninguém mais leva a sério as leis no Brasil, e o STF dá o exemplo maior dessa iniquidade, passa por mais um fato da vida.
Num questionamento confuso e agressivo, Fred foi para cima de Manuela com a velha ladainha terraplanista de que o fascismo é “de esquerda”, a CLT foi baseada em uma lei de Benito Mussolini etc etc etc.
“Tu entendes de regimes antidemocráticos sendo coordenador do Bolsonaro. Ele defende um país sem democracia, de torturadores”, ela respondeu.
“Todo mundo sabe que o fascismo foi um movimento de direita”.
Eis para onde foi empurrado o nível do debate.
Uma atração de uma emissora supostamente educativa tornou-se um lixo em que representantes da esquerda são cercados por adversários políticos com conversas de maluco.
Marcia Tiburi já ensinou como se trata com fascistas no episódio Kim Kataguiri: não tem diálogo, não tem gramática comum.
Não adianta, agora, colocar oclinhos em montagens da resposta de Manuela D’Ávila a um papo de débil mental.
Ela acabou dando aval a um monumento dedicado à burrice, à desonestidade e à antidemocracia.