Na tarde em que Corte Interamericana condena o Brasil pela morte de Herzog, Bolsonaro é aplaudido por empresários na CNI. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 5 de julho de 2018 às 6:26

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Há uma sincronicidade sinistra e emblemática envolvendo a sabatina com presidenciáveis organizada pela Confederação Nacional da Indústria nesta quarta, dia 4.

Ciro Gomes foi vaiado ao defender a revisão da reforma trabalhista, que chamou de “selvageria”. Comprometeu-se a discutir o tema com as centrais sindicais.

Respondeu com firmeza aos apupos: “Pois é, é assim que vai ser. Ponto final. Próxima pergunta. Vocês decidem. Se quiserem um candidato fraco, escolham um desses que vem de conversa fiada para vocês”.

Ciro está certo. O que a gestão Temer fez foi um “monstrengo”. Fala em “recolocar a bola no meio de campo”. Defendeu a montagem de um projeto nacional de desenvolvimento.

Mas os empresários brasileiros, esses tipos inesquecíveis, preferiram a demagogia vagabunda, a conversa mole sub liberal de Jair Bolsonaro.

JB foi aplaudido diversas vezes.

Não pelas propostas, mas quando atacou as cotas para negros, a legislação ambiental e a indigenista, o Congresso, o Supremo, a imprensa.

Garantiu que o parlamento era mais valorizado pela sociedade durante a ditadura e que, atualmente, é dominado por “grandes interesses”.

“No período militar, o deputado era gente. Hoje, temos operadores”, declarou. Ninguém lembrou que boa parte dessa “gente” era cassada.

“Eu não quero colocar um busto do Che Guevara no Planalto”, falou, como se isso fizesse algum sentido.

“Um presidente deve chegar lá e nomear seu time. Vou botar alguns generais em alguns ministérios. Qual o problema? Os anteriores não colocaram terroristas e corruptos?”, questionou.

Palmas para ele.

Naquela mesma tarde a Corte Interamericana de Direitos Humanos condenava o Brasil pela falta de investigação e sanção dos responsáveis pela morte de Vladimir Herzog em 1975.

O tribunal questionou a aplicação da lei de anistia de 1979 para encobrir os assassinos e apontou o Estado brasileiro como responsável pela violação do direito de conhecer a verdade e a integridade pessoal em detrimento dos familiares da vítima.

Apenas quatro décadas depois dessa execução pelo regime militar, temos um ex-capitão do Exército, apologista de torturadores, absolutamente despreparado, sendo ovacionado por industriais.

Choram Marias e Clarices o destino da nossa pátria mãe que, de gentil, não tem mais nada.