A Justiça britânica condenou a BBC num caso didático para o Brasil.
O veterano cantor Cliff Richard vai receber uma indenização de 210 mil libras (em torno de 1 milhão de reais) após a rede televisionar uma operação policial realizada em sua casa.
Com o auxílio de helicópteros, a BBC filmou os agentes invadindo a propriedade de Richard enquanto ele estava no Algarve, em Portugal, em 2014.
Era uma investigação sobre abuso sexual infantil.
Richard, que assistiu tudo de longe, sem saber do que se tratava, acabaria inocentado por falta de provas.
No despacho, o juiz Anthony Mann lembrou que a BBC infringiu a privacidade do artista “sem justificativa legal” e “de maneira sensacionalista”.
“Rejeitei o argumento da BBC de que tinha justificativa para noticiar e que o fez de acordo com seus direitos de liberdade de expressão e liberdade de imprensa”, escreveu Mann.
A vida de Richard foi “extremamente afetada por quase dois anos pela perda de status e de reputação pública, vergonha, estresse, transtorno e mágoa, com alguns efeitos subsequentes sobre sua saúde”.
Outros impactos financeiros, como o cancelamento de shows, serão avaliados numa data posterior, podendo o valor subir.
A dobradinha entre mídia e autoridades policiais está sendo discutida amplamente. A BBC não pode tudo.
Veja bem: estamos falando de uma empresa jornalística de padrão reconhecido internacionalmente.
Não o que temos no nosso quintal.
Cortemos, aliás, para o nosso quintal.
Quantos shows midiáticos a PF realizou em parceria com a Globo? Quantos mais serão realizados?
A humilhação de Guido Mantega no hospital em São Paulo, onde sua mulher estava tratando um câncer. Era jornalismo?
A transmissão ao vivo da condução coercitiva de Lula, com plantão, helicópteros – alguém estava interessando na letra da lei?
E o editor mentecapto da Época prometendo na véspera “um amanhecer especial, cheio de paz e amor”?
Os vazamentos que mataram o reitor Cancellier. Ninguém será punido.
Quantos eu deixei de citar?
A BBC está protestando contra o que considera um abuso.
O juiz Anthony Mann virou alvo de críticas. Não no nível da sarjeta. Ninguém o está chamando de “trabalhista” ou “conservador” (nem de comunista ou bolivariano).
Decidiu com coragem e consciência, sabendo o que está enfrentando. O preço para deixar barato o abuso da BBC seria alto demais.
Quantos juízes temos para colocar as coisas em seus devidos lugares no nosso Bananão?
Volta e meia, uma figura como Gilmar Mendes (Jesus amado) faz uma piada sobre a Globo News ser a terceira turma do Supremo — e fica por isso.
Repito: quantos juízes para colocar as coisas em seus devidos lugares no nosso Bananão?
Não precisa responder. Ficamos combinados que está tarde demais.