Boulos escolhe seu lar, o Largo do Campo Limpo (SP), para o primeiro ato de campanha. Por José Cássio

Atualizado em 23 de julho de 2018 às 10:28
Boulos em seu primeiro ato de campanha (Foto: José Cássio)

Se Lula saiu daquele estádio de Vila Euclides para a presidência da República, numa trajetória que muitos julgavam improvável, não é preciso ser uma Poliana para crer que Guilherme Boulos pode repetir o feito, a partir de um local politicamente também emblemático: o Largo do Campo Limpo, onde mora e que representa o alicerce da mais cintilante carreira de um líder popular após o ex-presidente petista.

Foi exatamente o bairro da periferia paulistana o local escolhido pelo Psol para o primeiro ato de campanha de Boulos, neste domingo, 22.

– A história do Lula é de alguem que saiu de baixo, do movimento social, da relação com o povo, e merece respeito e admiração, disse o presidenciavel. Na realidade, cada um constrói a sua própria caminhada, e a que estamos construindo aqui já tem 17 anos. Temos legitimidade e garra, e daqui vamos sim sair para apresentar um novo projeto para o Brasil.

Destacou a conjuntura para enaltecer seus pares.

– Esse povo esteve na linha de frente no enfrentamento do golpe, da retirada de direitos, da reforma da previdecia. Esse povo fez a greve geral em abril do ano passado, luta por moradia, faz ocupações e vai para cima dos governos quando preciso. Portanto, pode sim eleger um presidente. Tem candidaturas que são gestadas na Bolsa de Valores, outras na Fiesp e  em jantares nos Jardins e no Higienópolis. A nossa, com muito orgulho, está sendo gestada, com o pé no barro, aqui no Largo do Campo Limpo.

Não há previsão de público pela PM – nem compareceu – tampouco pelos organizadores, mas pelo menos cinco mil pessoas tomaram o Largo para ouvir o mais jovem – 36 anos – candidato a presidente da história do país.

– Tivemos a ousadia de montar uma aliança não tradicional e os resultados, de público e engajamento, são animadores, diz Juninho, líder popular de Embu das Artes e presidente estadual do Psol.

– Juntamos o Psol com o PCB, movimentos urbanos de cultura e luta pelas minorias e o Guilherme trouxe com ele a força, a capilaridade e o engajamento de movimentos sociais como o MTST e o Povo Sem Medo. Estamos bem otimistas.

De forma didática e bem empolgado, Boulos lembrou que o lugar onde é melhor recebido fora das periferias é o Nordeste.

– Não por acaso nos estados onde estão as pessoas humildes, que sofrem na pele com os desmandos e a ganância de uma elite comprometida apenas com seus interesses.

Lembrou que em Brasília perguntaram como quer ser presidente se só anda acompanhado de gente pobre e sem terra.

– Eu respondi que só não andamos ao lado de gente sem vergonha. Desses queremos distância.

Fez uma promessa.

– Em primeiro de janeiro de 2019, vamos fazer uma caravana a Brasília, e aqueles que sempre jogaram bombas em nós agora terão de bater continência. Estaremos todos lá, sem teto, sem terra, negros, mulheres, indígenas, porque aquele lugar é nosso.

Dona Cândida (Foto: José Cássio)

Há quem acredite. Dona Cândida Braga Pereira, de 79 anos, moradora de um acampamento na região e inscrita no núcleo 2 do movimento Povo Sem Medo, por exemplo.

– Não perco a esperança, diz dona Cândida. O Guilherme é um anjo que surgiu para ajudar os pobres, dar força aos que precisam e iluminar a estrada de quem luta por moradia e um vida digna.

Abraçado ao seu povo, sem se incomodar com os insistentes pedidos de assessores para seguir ao próximo compromisso, Boulos até no apego às raízes lembra Lula.

– Desse local, ao lado dessa gente, é que vim, e é para cá que eu volto sempre. Isso dá forças e renova as energias para acordar todos os dias e acreditar que é possível construir um país diferente.

Guilherme Boulos com sua base (Foto: José Cássio)