A carta de Lula aos blogs progressistas é um documento histórico em defesa da liberdade de expressão e o resultado de uma análise lúcida sobre o papel da imprensa no desenvolvimento de uma nação. Um trecho resume bem essa análise:
“Mais do que acreditar na minha inocência – porque leram o processo, porque checaram as provas, porque fizeram Jornalismo – os blogueiros e blogueiras progressistas estão contribuindo para trazer de volta o debate público e resgatar o jornalismo da vala comum à qual foi atirado por aqueles que o pretendem não como ferramenta capaz de lançar luz onde haja escuridão, mas apenas e tão somente como arma política dos poderosos.”
Este é, precisamente, o ponto que separa a imprensa livre, que é chamada também de independente ou progressista, da mídia corporativa ou velha imprensa: jogar luz onde haja escuridão.
Esta é a missão do Jornalismo (Lula escreve, corretamente, com letra maiúscula): Explicar em vez de confundir, buscar a informação capaz de transformar, informação que surpreenda e, surpreendendo, quebre a corrente do senso comum e ajude na luta contra a pior das pragas de uma nação: o preconceito, fruto ignorância.
Ignorância não no sentido da falta de escolaridade formal ou de estudo, mas da ausência do conhecimento sobre a verdade factual. Ignorância que é construída, diariamente, pela velha imprensa.
Neste momento, faço a cobertura sobre os furos do processo do sítio de Atibaia e me deparei com exemplos concretos sobre o que a desinformação pode fazer numa sociedade.
A farsa de que Lula é dono de um sítio nasceu de um boato que circulava insistentemente no bairro do Portão, em Atibaia, depois que Marisa Letícia foi vista comprando pão e mortadela Ceratti na padaria local, e bebendo café em copo descartável.
Isso é crime?
Não.
Mas, como ela ia com a família ao sítio de amigos perto dali, logo começou o zunzunzum de que era proprietária da área.
O boato chegou ao conhecimento dos procuradores da república, que estavam empenhados na Operação Lava Jato, e a força-tarefa baixou lá.
O que isso tem a ver com a Petrobras, o que justifica a Lava Jato? Em princípio, nada, mas a os procuradores foram a Atibaia do mesmo jeito.
Gesuldo, o gerente da padaria, conta que dois homens — um deles o procurador Roberson Pozzobon, sei porque mostrei a foto e ele confirmou — estiveram na padaria, sentaram em uma mesa e pediram para falar com o gerente.
Pozzobon queria saber se ele tinha visto Lula pela região. O gerente negou, mas, mais tarde, ligou no número que o procurador tinha deixado para dizer: não tinha visto Lula, mas Marisa.
Começou, então, uma negociação para que ele gravasse um depoimento, e ele gravou, sem mostrar o rosto, com o celular voltado para o alto e captando o áudio.
Ele disse que viu Marisa comprando pão e mortadela.
O que isso prova?
Nada.
Mas foi usado como fumaça num caso em que não havia fogo. Os procuradores procuraram outras pessoas, pessoas que prestaram serviço no sítio.
Queriam saber se a propriedade era do Lula, se era ele, a mulher ou um dos filhos que pagava pelos serviços.
Nada.
Mesmo sem nada de concreto na mão, o Ministério Público Federal incluiu a ação de busca e apreensão no sítio de Atibaia em 4 de março de 2016, o dia do espetáculo da condução coercitiva de Lula.
Entrou no pacote que, ao fim e ao cabo, contribuiu decisivamente para a criação do ambiente político hostil que levou ao impeachment de Dilma Rousseff.
Agora se sabe que, naquele dia, o único depoimento colhido na região foi de uma mulher tirada de casa pela manhã e levada com o filho pequeno, de 7 anos de idade, sem mandado judicial, para depor no sítio.
Rosilene da Luz Ferreira havia prestado serviço como faxineira no sítio e, questionada sobre quem lhe fez o pagamento, disse mais de uma vez: Fernando Bittar.
A resposta evidencia que era Bittar o dono de direito — a escritura está no nome dele — e de fato da propriedade — é ele quem dá ordens ali.
Mas o depoimento dessa senhora foi suprimido da denúncia, porque não contribuía para a farsa que seria evidenciada pelo power point: Lula como chefe de uma organização criminosa.
O depoimento de Rosilene veio a público há pouco, quando seu marido denunciou ao juiz Sergio Moro o que pode ser interpretado como abuso por parte dos procuradores e da Polícia Federal.
A velha imprensa ignorou. Mas quem lê o Diário do Centro do Mundo tomou conhecimento do caso e teve oportunidade de ver o vídeo em que a criança aparece, assustada, ao lado da mãe durante o depoimento — em que a mulher conta que recebeu a diária da faxina de Fernando Bittar.
Este é um exemplo, dentre tantos outros, em que a mídia independente combate o bom combate, como disse Lula em sua carta.
Não é fácil, mas o resultado tem sido reconhecido, não apenas por Lula, mas pelo publico em geral, como mostram os números da audiência — no caso do DCM, triplicou em um ano —, uma evidência de que o público já não confia na velha imprensa e busca outras fontes de informação.
A situação política no Brasil é dramática — o líder disparado nas pesquisas está sendo impedido de concorrer —, mas tem um efeito pedagógico: mostra quem é quem.
No caso da velha imprensa, já está claro que não trabalha pelo Brasil, mas por interesses muito específicos.
Por que tanto medo do Lula?
Por que tanta violência institucional para impedir que o povo decida livremente se o quer ou não na presidência?
São perguntas que começam a ser respondidas e, quando tudo estiver bem claro, o Brasil já estará maduro para tirar de cena aqueles que, realmente, trabalham para evitar que o o país se encontre com sua vocação: a grandeza.
E dou mais um exemplo: no dia 10 de julho estive em Curitiba, em mais uma tentativa de entrevistar Lula — nosso pedido foi negado pela juíza Carolina Lebbos — e fiz uma transmissão ao vivo da frente da Polícia Federal.
Fiz conforme o protocolo, me apresentei aos policiais militares do Paraná e comecei a gravar, no espaço que é usado pela imprensa em geral, entre o cordão de isolamento e a Superintendência da Polícia Federal.
Depois que terminei a transmissão e comecei a tirar fotos, um policial, o cabo Azevedo, disse que eu não poderia permanecer ali.
Por quê?
Ele me disse que eu deveria permanecer junto com os manifestantes da Vigília Livre. Nada contra, mas perguntei se a imprensa não poderia permanecer no local onde eu estava.
Ele me respondeu: “depende”.
Do quê?
“Se for imprensa imparcial, pode.”
Questionei sobre que critérios ele usava para definir o que parcial ou imparcial.
Ele não respondeu nada.
Como já tinha terminado meu trabalho, fui embora, e depois denunciei o policial à corregedoria da PM.
O que ele fez é fruto da ignorância.
Mas mesmo os ignorantes precisam ser instruídos, e que a corporação a que pertence decida.
O importante é que fiz o meu trabalho e o público foi informado.
É uma luta árdua.
Mas quem disse que ajudar a construir uma nação seria fácil?