O cantor e compositor Chico Buarque, junto com outros 85 artistas, deu sua contribuição ao manifesto “Lula Livre/Lula Livro”.
A obra reúne textos (poemas, crônicas, cartas, manifestos), cartuns, fotos, discursos e haicais pela defesa da democracia e da liberdade do ex-presidente Lula, que é mantido como preso político na sede da Polícia Federal em Curitiba.
Confira o depoimento de Chico:
Lula, por Chico Buarque
— Eu nunca tive nada contra o Lula. Eu inclusive estive com ele naquela casa lá de pobre em São Bernardo. Depois eu e a Ruth convidamos o Lula para passar um fim de semana em Ubatuba com a Marisa. Aí ele reclamou que não tinha água quente no chuveiro da casa. Imagina! O Lula!
Era o Fernando Henrique, sempre simpático, em reunião com artistas às vésperas das eleições de 1994. Naquele tempo ainda se podia achar graça numa anedota assim. Era um deboche, era um comentário preconceituoso, mas não havia um pingo de ódio naquelas palavras.
Lula ainda não era o chefe de organização criminosa, o ladrão, o comunista, o cachaceiro, o nine, o boneco vestido de presidiário enforcado ao lado de Dilma num viaduto de São Paulo. Ainda não tinha sido condenado sem provas, por imprensa, televisão, procuradores esquisitões e juízes deslumbrados, como proprietário de um triplex, ou tríplex, no Guarujá.
O ódio ao Lula é o ódio aos pobres. Tivesse ele imóveis na praia e dinheiro no exterior, talvez fosse mais bem tratado pelas autoridades que o trancaram e o mantêm isolado numa cela da Polícia Federal. Lá de dentro ele mandou dizer que já não confia na Justiça. Nem eu. Só espero que ele tenha água quente em Curitiba.