O ministro da Educação, Rossieli Soares da Silva, fez ouvidos moucos para as suspeitas e intimidações que a Polícia Federal de Santa Catarina promove junto aos professores e alunos da Universidade Federal daquele estado.
Na manhã de sexta-feira (27/07), Rossieli empossou o professor Ubaldo Cesar Balthazar como novo reitor da UFSC. Garantiu assim a continuidade da gestão do ex-reitor Luiz Carlos Cancellier de Olivo, que se suicidou após a humilhação de que foi vítima com a Operação Ouvidos Moucos, comandada pela delegada Erika Mialik Marena. Balthazar, desde então, ocupava interinamente o cargo.
O novo reitor recentemente foi intimado pela Superintendência da Polícia Federal de Santa Catarina para ser ouvido em inquérito. A investigação foi aberta a pedido da delegada Érika e tem como objetivo apurar possíveis crimes de calúnia e difamação nas manifestações de universitários por ocasião da morte do reitor. Como Balthazar, o professor Aureo Mafra de Moraes, chefe do gabinete da reitoria, também foi chamado a depor na PF, conforme noticiado na sexta-feira pela Folha de S. Paulo em PF intima professor da UFSC após evento com críticas à polícia. Tudo vem sendo visto como uma forte intimidação.
Aureo também esteve com o ministro na manhã desta sexta-feira (na foto, de blazer), junto com Jair Napoleão, pró-reitor de administração, Vladimir Fay, secretário de planejamento, Álvaro Lezana diretor-geral do gabinete do reitor e Gelson Albuquerque, assessor institucional da universidade (todos na foto, da esquerda para a direita). Ou seja, a cúpula da universidade foi recebida pelo ministro. Na ocasião, não se falou sobre a intimidação dos policiais federais. Foi como se o problema não existisse.
Como mostrou o JornalGGN – A imagem que fez o professor da UFSC virar alvo da PF e da delegada que prendeu Cancellier -, o professor está sendo responsabilizado por algo que os alunos fizeram.
Ao que parece, a delegada e seus colegas pretendiam que a Universidade censurasse as manifestações estudantis.
Aureo não responde pelo que teria dito em sua fala, até por ela pouco ter sido reproduzida no vídeo. O que a Polícia Federal lhe cobra é a faixa exposta pelos alunos em manifestação contra a morte do reitor (ao lado). Nela estão as fotos da delegada e da juíza da 1ª Vara Criminal Federal de Florianópolis, Janaina Cassol Machado, que concedeu o mandado de prisão contra o ex-reitor Cancellier. Com as imagens, a frase: “Agentes públicos que praticaram abuso de poder contra a UFSC e que levou ao suicídio do reitor.”
No entendimento de alguns membros do Ministério Público Federal e promotores estaduais ouvidos pelo Blog, a ação da Polícia Federal pode ser vista como novo abuso de poder. Um deles resumiu: “com certeza o abuso se encontra na investigação em si. Investigar um protesto numa faculdade pública é um ato arbitrário, ilegal e abusivo”. Outra fonte admitiu que com um Habeas Corpus seria possível trancar esse inquérito. Caberia à própria UFSC tomar a iniciativa.
Esta não é a disposição da nova administração da universidade. Mesmo no caso de Cancellier, nada foi feito pela UFSC contra o ato de arbítrio. Em Brasília, o professor Áureo deixou claro que não pretende revidar às provocações ao adiantar ao Blog que não tomará qualquer atitude: “Estamos tranquilos. Prestamos todas as informações e vamos aguardar a conclusão do inquérito”, anunciou.
Em Florianópolis, o desembargador aposentado Lédio Rosa de Andrade, amigo pessoal de Cancellier – a quem trata como Cao – e hoje candidato ao Senado pelo Partido dos Trabalhadores, também considera abuso o Inquérito da Polícia Federal:
“A Polícia Federal fez todas as barbaridades que fez com o Cao e o resultado foi a promoção da delegada. Então, estão com carta branca para fazer o que quiser. Continuarão fazendo barbaridades enquanto não houver uma ação de quem precisa corrigir esses abusos, porque o abuso está solto e incontrolado“.
Essa ação cobrada por Lédio Rosa, como relata na manhã deste sábado (28/07) Paulo Henrique Amorim no Conversa Afiada, a partir de uma nota publicada na coluna de Mônica Bergamo, neste sábado- Gilmar diz que Jungmann tem que se pronunciar sobre atuação da PF em universidade – deveria partir do atual ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, como cobra o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal. Consta da postagem da PHA:
“O ministro Raul Jungmann [da Segurança Pública] tem que se pronunciar”, diz o ministro Gilmar Mendes, do STF. “Um bom legado dele será instalar o Estado de Direito na PF.”
(…)