POR RICARDO CAPELLI
Para onde vai a esquerda? Faltando poucos dias para o registro das chapas, o cenário permanece indefinido.
A bola parece estar com o PT e com o PSB. O PDT já definiu seu rumo. Marchará com Ciro, mesmo que isolado. O PCdoB, o irmão menor, mais velho e mais responsável é o único que ainda clama por unidade.
A convenção comunista confirmará a candidatura de Manuela. A gaúcha responde a um antigo anseio do partido de construir identidade própria e sair das “barbas do PT”. Na vida real, nem sempre vontade e realidade andam juntas.
Se o PT colocar na mesa a vice de Lula, este deverá ser o destino dos marxistas. A direção petista aprova a ideia, mas ela não avança. Há duas hipóteses. Pra fora o discurso é que o PT ainda espera o PSB. Os socialistas são maiores, parece um argumento razoável.
O problema é que todos sabem que o partido de Arraes está entre a neutralidade e Ciro. Não existe hipótese de apoio ao plano B do PT. O governador de Pernambuco luta para que o partido fique neutro. Carlos Siqueira, presidente da sigla, afirma que esta hipótese não existe, “que o PSB não nasceu para ser satélite de ninguém”.
A segunda hipótese para o PT não oferecer a vice parece mais verossímil. Quando a proposta foi levantada, Gleisi foi taxativa: “é preciso consultar Lula”. O cálculo do ex-presidente se relaciona com a estratégia definida pelo PT.
Se o objetivo central é fortalecer e proteger a legenda, faz sentido deixar Manuela (65) rodar o país durante 45 dias em nome de Lula? Com o candidato preso, o vice será a grande estrela até a provável troca.
Nos últimos dias cresceram os sinais de que o PSB pode apoiar Ciro. O jornal Diário de Pernambuco afirmou que será a primeira vez, desde que Arraes ingressou no PSB, que o diretório do estado será derrotado internamente. Os movimentos de Alckmin assustaram Márcio França, que teria se deslocado em direção ao pedetista.
A convenção do PSB será no domingo. Circula ainda que o mineiro Márcio Lacerda teria declinado da vice de Ciro e que o PSB pode defender que a vaga seja oferecida a Manuela.
Mesmo com a preferência pelo PT, se isto acontecer os comunistas estarão diante de um dilema. Não será fácil dizer não a uma Frente envolvendo PDT, PSB e PCdoB.
Se o PT não oferecer a vice ao PCdoB e o PSB for para neutralidade, a tendência é que Manuela siga candidata até o final. Prevalecendo a lógica do “cada um no seu quadrado” a esquerda irá para a eleição brincar de roleta russa.
Bolsonaro tem 11% na espontânea. Pode ter 15% dos votos? Alckmin com tempo de TV gigantesco e uma imensa máquina pode chegar a 15%? É razoável imaginar que um candidato do PT alcance 15%? Ciro, sem Lula, tem 9%. Se ampliar, pode chegar aos 15%?
Marina está isolada, parece fadada a desidratação. Entretanto, quem acompanha o noticiário percebeu que a Globo continua a bater no ex-governador paulista. Ela pode ser uma reserva?
Apesar das “vacas sagradas” da análise da política brasileira cravarem que será mais do mesmo, um segundo turno entre PT e PSDB, não me parece que o jogo será tão simples assim.
A “Aliança do Coliseu”, bloco liderado pela Globo com setores neopositivistas da burocracia estatal, por enquanto só observa. Os acontecimentos recentes recomendam não subestimá-los.
Possuem um canhão midiático e, tudo indica, munição estocada.
A unidade garantiria um candidato do campo “vermelho” no segundo turno. Com a divisão, a esquerda abriu mão da frieza do cálculo político e adentrou na linda poesia do anarquista curitibano Paulo Leminski: “Distraídos venceremos”. Será?