Publicado originalmente no perfil do Facebook do autor
POR LUIS FELIPE MIGUEL, professor de Ciência Política na UnB
Durante um tempo, eu fui absolutamente fascinado por Joseph Conrad. Foi quando Naipaul começou a ser publicado no Brasil, anunciado como “o novo Conrad”.
Nem de longe, na minha opinião, embora fosse um prosador competente, bom criador de personagens e situações, muito acima da média. Mas sua simpatia pelo colonialismo e seu desprezo mal-disfarçado pelas próprias origens (nasceu em Trinidad e Tobago, de família indiana) tornam difícil ter ânimo de abrir seus livros.
Dizem também que era uma pessoa intragável. O obituário que a Folha publica hoje traz o seguinte trecho: “Em entrevista à Folha, em 1994, indagado sobre a dificuldade de ser escritor num país colonial, respondeu: ‘Tenho uma carreira de 40 anos. Sou mais importante que muitos escritores. Você não pode falar disso comigo. Minha família é muito rica. Não posso fingir que sou um mendigo ignorante’.”
O Império Britânico, que Naipaul tanto idolatrava, deu-lhe o título de “Sir”. No caso dele, é bem compreensível. Mas sempre sinto um mal estar quando vejo o nome de pessoas que admiro, às vezes até com posições políticas progressistas, acompanhado de “Sir” ou “Dame”. Não é uma condecoração, é um título honorífico, resquício de uma visão pré-liberal que não vejo como pode ser sustentada no século XXI.
Lembro de uma vez que fui me registrar no aplicativo da British Airways. Começava tendo que escolher o tratamento. Em vez das opções de sempre (Mr./Mrs./Miss/Ms.), havia uma lista interminável, incluindo sir, dame, barão, baronesa, conde, condessa etc. etc. Imaginei que, entrando no avião, encontraria Arthur e Guinevere na fileira ao lado.
Besteira minha, claro. Certamente eles viajam de primeira classe.