Essa coisa de classificar como empoderada aquela mulher que posa nua e fuma maconha nunca colou muito comigo: empoderada é a minha tia proletária, que acorda 5 a.m, dá café da manhã aos filhos, deixa-os na escola, vai trabalhar e só volta toda às 18h pra começar tudo de novo.
Nudez, por si só, não é necessariamente uma prova de empoderamento, mas em alguns casos é especialmente necessária: por exemplo, em um país que tem Bolsonaro, bancada evangélica e uma das maiores taxas de feminicídio do mundo.
Ana Cañas assumiu corajosamente essa função em suas redes sociais, ao mostrar o corpo sem retoques em fotos íntimas. “Tenho celulite, estrias, varizes nas coxas e um peito maior que o outro. Também tive bulimia dos 16 aos 19 anos. Uma sequela física e psicológica em decorrência do assédio que sofri nessa idade. Durante anos, rejeitei meu corpo.”
Há duas abordagens principais da nudez feminina na atualidade: aquela feita para consumo masculino – playboy, ensaios sensuais e muito photpshop –, permitida e incentivada pela parcela conservadora da sociedade, e aquela tida como ato político, que não é promovida para o consumo masculino, mas para a autoafirmação feminina em questões sensíveis à sua condição.
A nudez de Ana Cañas não é sexual, é um ato político – pelo seu contexto, pela sua crueza e pela falta de retoques. É um grito de autoafirmação que quer dizer, basicamente: “vocês não conseguirão mais me fazer odiar meu corpo!”
Eis uma das mais úteis funções da internet: dar visibilidade aos mais variados discursos, às mais variadas formas de comunicação e autoafirmação, inclusive à nudez política (embora o Instagram ainda exija tarjas para mamilos femininos no Século XXI), apesar de Bolsonaro e da Bancada Evangélica.
Ana Cañas é uma grande mulher por se colocar como exemplo para uma geração – sobretudo de mulheres – que tem dificuldade em aceitar o próprio corpo e sérias distorções de autoimagem.
Quanto ao Marck Zuckemberg: free the nipple!