Publicado originalmente no Balaio do Kotscho
POR RICARDO KOTSCHO, jornalista
Algum marqueteiro ou assessor precisa urgentemente avisar o ex-governador Geraldo Alckmin que ele não é candidato a mais uma reeleição em São Paulo, mas a presidente da República.
Alckmin passou metade dos 27 minutos da entrevista no Jornal Nacional na defensiva, ao responder às perguntas sobre as denúncias de corrupção envolvendo o seu governo e o PSDB, e a outra metade fazendo uma prestação de contas da sua administração em São Paulo, para falar das maravilhas do estado, o melhor do país em tudo.
O problema é que o Brasil não é São Paulo, e Alckmin não conhece o Brasil. Só vai lá em época de eleição para tirar fotos com chapéu de vaqueiro numa criação de bodes.
O que interessam ao resto do país as obras feitas em São Paulo? No final, ainda listou as estações de metrô que vai inaugurar esta semana, como se os eleitores de outros estados soubessem onde fica a Chácara Klabin e se perguntando o que eles têm a ver com isso.
No tom monocórdico de sempre, escandindo cada sílaba, o candidato tucano repetiu todos os números e jargões dos debates e não conseguiu apresentar uma única novidade no seu programa de governo para o Brasil, declamando apenas siglas e estatísticas que não chegam a emocionar ninguém.
Não adianta dizer que vai repetir no Brasil inteiro o que fez aqui porque o orçamento federal não permite e, além disso, boa parte do eleitorado só viu metrô na vida até hoje nas propagandas do governo de São Paulo ou em filmes.
Deve ter despencado a audiência da Globo na terceira entrevista da série dos presidenciáveis que termina nesta quinta-feira com Marina Silva.
Bem que William Bonner e Renata Vasconcelos, para mostrar imparcialidade, tentaram apertar Alckmin como fizeram com Ciro e Bolsonaro, mas ele se manteve impassível o tempo todo, não vendo a hora do programa acabar.
Sobre os casos de corrupção, pulou como gato andando sobre brasas e repetiu platitudes:
“Não passamos a mão na cabeça de ninguém. Quem pagou paga pelo erro, quem for absolvido será absolvido”.
Beleza. Com a Justiça partidária e seletiva que impera no país, não poderia mesmo dizer outra coisa.
Como já aconteceu em entrevistas anteriores, o tucano saiu em defesa de Laurence Casagrande, ex-presidente da Dersa e secretário do seu governo, que está preso, enumerando várias vezes as qualidades do auxiliar.
“Espero que amanhã, quando ele for inocentado, tenha o mesmo espaço na mídia. É uma pessoa correta”.
Ao longo do programa, prometeu várias vezes “empregos na veia”, com a multiplicação de obras de infraestrutura por toda parte, sem dar uma pista de onde pretende tirar os recursos.
E perdeu uma boa oportunidade para tentar desempacar nas pesquisas.
“Peguei o governo com 60 estações de metrô. Vou entregar com 89, mesmo em momento de crise”, gabou-se, como se isso fosse mudar o voto dos eleitores de Cabrobó do Norte e Pirapora do Bom Jesus.
Mas nem em São Paulo isso representa muita coisa, já que depois de governar o estado várias vezes, nos 24 anos de administrações do PSDB, está em terceiro lugar nas pesquisas no estado, atrás de Lula e Bolsonaro.
Nesta sexta, começa o horário eleitoral gratuito na TV, a grande esperança de Alckmin parae finalmente decolar na campanha.
Pela amostra da entrevista no JN, vai ser difícil.
Vida que segue.