Para um país onde a nata do analfabetismo funcional se acha do direito de querer ensinar aos alemães as origens do nazismo, não é de se estranhar que um mal parido como o general Mourão queira dar os seus palpites sobre as relações de amor e afeto envolvidas nas famílias que por inúmeros motivos são constituídas sem a presença paterna.
O que realmente assombra nesse caso é a indigência, o preconceito, a homofobia, a desinformação e o machismo com que constrói a sua narrativa.
A coisa se deu numa palestra proferida no Sindicato da Habitação de São Paulo (Secovi-SP). Lá pelas tantas o candidato a vice na chapa de outro neandertal sentenciou:
“A partir do momento em que a família é dissociada, surgem os problemas sociais. Atacam eminentemente nas áreas carentes, onde não há pai e avô, é mãe e avó. E, por isso, torna-se realmente uma fábrica de elementos desajustados que tendem a ingressar nessas narco-quadrilhas”.
A essa altura ele já havia, por óbvio, discriminado as famílias formadas por casais homossexuais. Mas não satisfeita a sua obtusidade, partiu para a ofensa e a criminalização de famílias que, elas próprias, são vítimas pelo abandono dos pais.
Tudo, claro, resumido aos pobres. Famílias ricas nessa mesmíssima situação estão imunes às suas vaticinações. Se for um certo militar que já passa pelo terceiro casamento, então!!!
Mourão não sabe, e dada a sua ignorância não teria mesmo como saber, mas não é fácil determinar exatamente de quantas formas e maneiras sua afirmação pode estar errada.
Primeiro que o seu machismo não o deixa perceber que são justamente essas mães e avós – e não os pais e avôs que os abandonaram – as grandes responsáveis por não termos um verdadeiro desastre social causado justamente pela dissolução familiar provocada, sobremaneira, pelos homens.
Fiquemos, apenas a título de ilustração, com um único dos muitos fatores que fazem com que mães e avós se tornem as únicas responsáveis pela criação, educação, sustento e formação moral e ética de nossas crianças: o não reconhecimento paterno.
Não existem dados oficiais atualizados para o número de crianças cujos registros de nascimento não constam sequer o nome do pai. Os últimos dados que se têm notícia dão conta de um contingente de 5,5 milhões de crianças que foram registradas apenas com o nome da mãe e da avó.
Mas essa informação está claramente defasada. A questão, porém, é que só esse número dá uma ideia do problema que Mourão quer descaradamente imputar às mulheres.
O não reconhecimento de paternidade é apenas a ponta do iceberg do abandono dos homens em relação às suas companheiras e filhos.
Se somarmos a esses a quantidade de “pais” que mesmo tendo reconhecido sua prole em cartório, os abandonam física ou psicologicamente, o exército de seres humanos carentes de uma referência masculina em sua criação é descomunal.
Daí que se não fosse todo o amor, carinho, respeito, trabalho, educação e infinitos sacrifícios que justamente as mães e avós, sozinhas, empregam na difícil arte de construir um verdadeiro cidadão, estaríamos definitivamente no caos.
Imputar uma parte considerável da criminalidade desse país justamente a essas mulheres, não é só desonestidade intelectual, é mau-caratismo.
Não tenho como afirmar de que forma se deu a criação do general Mourão, mas a julgar pelo ser humano que se transformou, é possível dizer que o seu pai fez um péssimo trabalho.