Todo o anticorintianismo fanático se projeta na cobertura da tragédia da Bolívia.
Toda a raiva, toda a inveja, todo o ressentimento que o Corinthians provoca entre os demais torcedores brasileiros, sobretudo os paulistas, marcam a repercussão da tragédia do estádio boliviano.
Choremos, choremos sentidamente, choremos compungidamente por Kevin Espada, vítima aos 14 anos de uma dessas fatalidades inexplicáveis e absurdas em que a vida é tão rica.
Mas não cometamos o erro de condenar antecipada e injustamente toda uma torcida apaixonada, fanática, humilde – essencialmente gente simples, pobre, excluída, gente que tem no Corinthians uma das raras fontes de alegria numa vida sem escola, sem consultórios médicos, sem tijolos, sem água potável, e muitas vezes sem pai e sem mãe.
Este é um caso de condenação sumária. Nem mesmo são conhecidas as circunstâncias da morte – foi mesmo de propósito o disparo, ou foi acidenta, para começo de conversa – e mil maldições já recaíram sobre os corintianos.
Compreendo, apoio e repercuto o desespero e a revolta dos pais, da família, dos amigos de Kevin. Mas desprezo as manifestações oportunistas anticorintianas que se misturam com aquela dor genuína.
Vamos apurar com calma os fatos. Vamos extrair as lições que se apresentarem. Vamos lembrar que todos nós estamos expostos a horrores imprevistos oriundos sabe-se lá de onde, porque assim é a vida.
E vamos parar de atacar histericamente, levianamente, absurdamente a torcida corintiana.