Na Copa de 2014, uns dias antes do 7 a 1, o assessor de Imprensa da CBF teve uma ideia brilhante para unir o país em torno da “amarelinha”.
A ideia era garantir um ambiente de otimismo que seria decisivo para deixar a insegurança pelo mau futebol de lado, atropelar a Alemanha e enfim seguir em frente rumo ao hexa.
Convocou para um convescote secreto na Granja Comari meia dúzia de “medalhões” da crônica esportiva, todos da imprensa do Rio e São Paulo, além de jornalistas da Veja e da Globo.
O estrategista era prático no seu raciocínio.
Convencidos por Felipão de que era preciso dar uma força, os jornalistas iriam irradiar a tendência, “pautar” a mídia e consequentemente a opinião pública nacional.
Só esqueceu de combinar com os russos. E o desfecho da piada é nosso velho conhecido.
É mais um menos assim que o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio, tucano histórico, vê a inciativa engendrada por Fernando Henrique com apoio dos mesmos veículos de Imprensa para tentar bancar a união do centro político e com isso salvar a natimorta candidatura de Geraldo Alckmin à presidência.
“É um gesto que não vai levar a lugar nenhum”, disse Virgílio em entrevista exclusiva ao DCM.
“Ao contrário. Minha leitura da iniciativa revela duas constatações: a pá de cal nas pretensões do Geraldo e a sinalização para um possível apoio à candidatura de Haddad no segundo turno”.
Virgílio impôs a Geraldo nesta semana uma humilhação em rede nacional, recusando-se a recebê-lo na sua cidade.
“É consenso entre o meu pessoal que não devemos trabalhar pela candidatura dele”, diz.
“Geraldo como governador de São Paulo é contra os incentivos constitucionais da zona Franca de Manaus, então, enquanto candidato a presidente, vem fazer o que aqui: mentir para o povo?”.
No início do ano, propôs a realização de prévias para a escolha do representante do partido, lançando sua própria candidatura. Foi tratado que nem cachorro.
“O pessoal do Geraldo vive no mundo da lua, diz o prefeito de Manaus. Não faz ideia de como são pretensiosos e arrogantes. Me tratavam como se eu fosse de uma casta inferior. Ao propor um debate nacional, com a ideia de arejar a agenda do partido, ouvir os representantes dos Estados, saber das suas necessidades, parecia que eu estava ofendendo a mãe de alguém”.
No seu entendimento, Geraldo encarna, como presidente nacional do PSDB, o papel do “colonizador”.
“É como se fôssemos os colonizados. Ele chega, determina como vai ser e pensa que as pessoas vão aceitar”, afirma.
“A sensação que tenho é que quando criança uma tia de Pindamonhangaba passou a mão na cabeça dele e disse que um dia seria presidente da República. E ele acreditou”.
Sem interlocução nacional, o PSDB do Amazonas está em frangalhos. Sem chances na disputa pelo governo do Estado e ao Senado, sem recursos do fundo partidário, sem ânimo pra nada.
Virgílio, que pensa em votar em Henrique Meirelles, do PMDB, traça um quadro nebuloso para o partido ao final da eleição.
“Se o Geraldo tivesse aceitado disputar as prévias como falei, com 10 encontros, ele teria vencido. Minhas chances eram mínimas. Mas teríamos criado um ambiente de discussão que iria servir para renovar a agenda política do partido e unir todo mundo. Hoje ele poderia estar no segundo turno”, declara.
Lamenta que o ex-governador de São Paulo tenha optado pelo tempo de TV, não se importando com as consequências politicas de se juntar com o Centrão.
“Viramos um partido que diz que faz diferente, mas é igual aos demais: leniente com os erros internos, veja o caso Aécio Neves, e fiador das piores práticas políticas”.
O PSDB que sai dessa eleição, na opinião de Virgílio, será um partido menor e irrelevante.
“Perdemos o protagonismo. Agora vai ser difícil juntar os cacos, pois não há novas lideranças no horizonte e as primeiras gerações, eu mesmo sou um caso, envelheceram”.
A 15 dias do pleito, Virgílio mantém a opinião de que Geraldo não chega a dois dígitos – em Manaus, chafurda na casa dos 2% das intenções.
“Agora não há muito mais o que fazer, ainda que o ex-presidente Fernando Henrique tenha tido boa intenção na iniciativa de juntar o grupo do centro democrático”, afirma.
Para o prefeito, o que fica desta derradeira aventura nacional de Geraldo é o sentimento de perplexidade que demonstrou ao ser desafiado às prévias.
“É uma inversão de valores. O que se espera de uma candidatura presidencial é que lidere e aponte caminhos, não como está ocorrendo, em que se espera que as bases estaduais carreguem o majoritário nas costas”.
Como o assessor de Imprensa da CBF em 2014, FHC errou bisonhamente ao imaginar que o seu “convescote” pudesse surtir algum resultado.
O 7 a 1 já está escrito, ainda que a velha imprensa continue tentando um último suspiro.