Publicado originalmente na Rede Brasil Atual
A mobilização de setores da sociedade com campanhas e manifestos contra os riscos à democracia representados pela candidatura de Jair Bolsonaro (PSL) e, em especial, o movimento #EleNão, liderado por mulheres, foram fundamentais para o crescimento da rejeição ao presidenciável. Segundo o professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fesp-SP) Aldo Fornazieri, foi criada uma espécie de “barreira” que impede o seu crescimento e a última pesquisa Ibope indicaria que Fernando Haddad (PT) tem potencial para crescer mais, enquanto Bolsonaro, inversamente, pode cair.
Para além do salto nominal na rejeição, de 42% para 46% – 50% entre as mulheres –, Aldo aponta as debilidades do candidato no segundo turno, cenário no qual perde para os três principais concorrentes – Haddad, Ciro Gomes (PDT) e Geraldo Alckmin (PSDB). Segundo ele, as mobilização contra o atual líder das pesquisas marcadas para o próximo sábado (29) devem reforçar essa barreira.
“O que criou toda essa dificuldade para o Bolsonaro foi essa forte campanha de denúncia, das mulheres, dos partidos, mas também dos movimentos sociais, com vários manifestos de intelectuais, das centrais sindicais, toda uma movimentação na sociedade contra ele”, analisa o professor da Fepesp.
Outra movimentação marcante trazida pela última pesquisa, segundo Aldo, é o crescimento de Haddad, não apenas no primeiro turno, mas também no segundo, onde aparece derrotando Bolsonaro por 43% a 37%. “Haddad tende a ir para o segundo turno e aparece com vantagem. No primeiro, foi praticamente o único que continuou crescendo, mas a velocidade diminuiu, o que é normal. Ele tinha dado saltos muito significativos anteriormente. Agora a velocidade de crescimento parece ter diminuído, mas ainda não terminou.”
O professor diz que se a rejeição do presidenciável do PSL continuar a crescer, pode haver uma espécie de “voto útil” em Haddad, algo parecido com a movimentação registrada pelo Ibope na região Sul do país, onde o candidato do PSL perdeu oito pontos percentuais e o petista subiu oito. Caso a rejeição a ele chegue à casa dos 50% dos votos, Aldo diz que uma vitória de Bolsonaro ficaria praticamente inviabilizada.
“Se não houver uma reação por parte da sua campanha, ele pode perder votos. Temos que lembrar que segundo turno é sempre outra campanha. Não dá para dar de barato que ele está inviabilizado, mas a tendência é essa. Em eleições sempre acontecem coisas imprevistas, as pesquisas identificam tendências, mas é preciso que as urnas confirmem”, diz Aldo. O mesmo vale para Ciro e Alckmin que “ou fazem algo de extraordinário”, no sentido de criar um fato novo e positivo em suas campanhas, ou tenderão a ficar estagnados ou cair, consolidando a disputa, na segunda volta, entre Haddad e Bolsonaro.