Ao esconder o Bolsolão, a Globo mostra que está aberta para negócios com o ex-capitão. Por Donato

Atualizado em 19 de outubro de 2018 às 7:55

 

William Bonner e Renata Vasconcellos no Jornal Nacional da Globo. Foto: Divulgação/Twitter

Vergonha alheia.

Desde a vitória de Donald Trump, quando ficoucomprovado que as redes sociais transformaram-se numa usina de mentiras decisivao mundo inteiro anda de olho nos países onde estejam ocorrendo eleições.

Ontem não foi diferente. Tão logo veio a público a bomba estampada na capa da Folha de S.Paulo, em letras garrafais: “Empresas bancam disparo de mensagens anti-PT nas redes” com a denúncia de que várias empresas firmaram contratos de até R$ 12 milhões para emissão de mensagens a serem feitas na próxima semana, a última antes da eleição de segundo turno, a repercussão foi imediata, enorme e mundial.

O Guardian afirmou que Bolsonaro – a quem se referiu como ‘um populista pró-tortura que elogia a ditadura’ – “tem recebido ajuda ilegal de um grupo de empresários brasileiros que estão patrocinando uma campanha para bombardear usuários do Whatsapp com notícias falsas”.

E assim foi ao longo do dia. Não se falava de outra coisa em redações, escritórios, bares e padarias. Portanto cresce aos olhos o fato de que o grupo Globo tenha ficado na moita praticamente o dia inteiro. E quando não tinha mais como segurar, foi obtuso.

Somente no final da tarde o G1 noticiou discretamente, dentro da seção ‘Eleições’, fora da primeira página. Já o site do O Globo havia postado uma matéria com o títuloforte “Bolsonaro pode ser acusado de abuso de poder econômico e ter candidatura impugnada”, mas logo depois derrubou o link. 

E o Jornal Nacional não trouxe o tema nem como notícia. Deixou que o assunto fosse abordado pelo próprio Fernando Haddad no bloco que traz as informações sobre a agenda dos candidatos.

“Estamos diante de uma tentativa de fraude eleitoral. E fico perplexo que o pressuposto dessa campanha era liquidar a eleição no primeiro turno para que as notícias de hoje não viessem à tona”, disse o petista. A perplexidade era geral, diga-se, mas a empresa da família Marinho fazia cara de paisagem.

Fez pior. Em seguida ao bloco das agendas dos candidatos, o telejornal emendou uma reportagem curta e desvinculada na qual Raquel Dodge afirmou que fakenews “não convém à democracia”; Rosa Weber declarou “que os dois lados precisam combater as informações falsas”; Que Fachin pediu “fair play aos dois lados”.

Em resumo, deu-se um jeito de equilibrar a coisa toda, como se isso fosse possível. Agiram como Trump em resposta ao ataques de supremacistas brancos.

Jair Bolsonaro, como já se previa, saiu-se com o argumento que tem usado em todas as ocasiões (e que revela seu grau de despreparo e seu caráter): “Eu não tenho controle, não tenho como saber e tomar providência”.

candidato tem reagido dessa forma covarde e espantosa para todo e qualquer evento importante – de incêndio em museu a assassinato cometido por seus seguidores – mas e a Globo? Vai aguardar 50 anos para se retratar, como fez para admitir seu apoio à ditadura?

Veja o tamanho da gravidade da situação: o PT entrou com pedido de inelegibilidade de Bolsonaro por abuso de poder econômico e o caso fez com que o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) convocasse para hoje, às 16 horas, uma coletiva de imprensa na qual estarão a presidente do TSE, Rosa Weber, o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência (GSI), general Sérgio Etchegoyen, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, a advogada-geral da União, Grace Mendonça, e o diretor-geral da Polícia Federal, delegado Rogério Galloro.

Mas quem se informa exclusivamente pela Globo hoje será pego de surpresa e seus jornalistas terão que, mais uma vez, simular que ontem não sabiam de nada.

Vergonha, hein.