Em entrevista ao Fantástico, Sergio Moro afirmou que aceitou o Ministério da Justiça e Segurança Pública na gestão de Bolsonaro por acreditar que o cargo lhe dá mais poder para combater a corrupção e o crime organizado.
Disse, também, que não assumiria se a decisão colocasse em risco a sua biografia.
A primeira afirmação é compreensível. Quanto à segunda, há controvérsias.
Ao assumir um ministério responsável por medidas de redução da criminalidade, Moro corre o risco de decepcionar o fã-clube que o considera um super-herói, apto a fazer diferença à frente da pasta.
Foi o próprio Moro quem deu indícios de que será no máximo um ministro mediano. Nas entrevistas concedidas após a confirmação no cargo, Moro não deu destaque à diretriz mais importante na busca por soluções na segurança pública: a prevenção.
O ex-juiz defendeu o endurecimento das penas, o fim da progressão de regime, a redução da maioridade penal para “crimes de sangue” e o fim da visita íntima nos presídios.
Falou trivialidades como investir em inteligência e tecnologia para combater a corrupção e as organizações criminosas.
Em linhas gerais, falou só da repressão. Não citou maneiras de evitar que adolescentes ingressem no tráfico de drogas ou se tornem ladrões de celulares, ponto chave para a diminuição da criminalidade.
Ideias como replicar o modelo da força-tarefa da Operação Lava Jato e regulamentar a infiltração de policiais nas quadrilhas podem até ser eficientes, mas são limitadas. Reprimem mas não impedem o delito.
Os mais recentes casos de sucesso na redução da criminalidade só foram eficazes porque buscaram resolver o problema na origem.
Ciudad Juárez, no México, era considerada a cidade mais violenta do mundo e conseguiu baixar a taxa de homicídios após investir na infraestrutura dos bairros mais pobres, por meio de melhorias como asfalto nas ruas, instalação de bibliotecas, creches e praças esportivas.
As paredes desbotadas das residências humildes foram cobertas de cores vivas, levando mais leveza e humanidade aos bairros.
A Polícia Municipal, que corresponde à PM do Brasil, foi valorizada, com aumento de salários, crédito habitacional e melhorias em equipamentos. Antes disso foi saneada, com um em cada três policiais afastados por corrupção.
Com os investimentos sociais e os trabalhos repressivos, os resultados positivos chegaram à cidade de 2,6 milhões de moradores. A taxa de homicídios, que estava em 273 por 100 mil habitantes em 2010, caiu para 44,3 em 2017.
São números ainda altos. No Brasil, para comparação, a taxa está em 26,9 por 100 mil habitantes. Mas a redução da criminalidade ao longo dos anos mostra que os mexicanos de Ciudad Juárez trilharam o caminho certo.
Aliás, nada ali foi inventado. As ações em Ciudad Juárez foram inspiradas em Medellín, cidade colombiana citada por dez entre dez especialistas em segurança pública quando o assunto é redução da violência.
São dois bons exemplos para inspirar Sergio Moro. O problema é que até agora ele não deu sinais de se importar com as causas sociais da violência.
Sem essa preocupação, qualquer medida não passa de paliativo.
Dá para enganar a população durante algum tempo, com operações cinematográficas e as exibição das “mansões” dos chefes do tráfico, onde banheiras capengas viram símbolo do mais fino requinte.
Quem é visto como semideus pela legião de fãs não pode fazer o trivial. Principalmente em uma área sensível como segurança pública.
Sem resultados, as cobranças chegam. Se pensasse bem na biografia, seria melhor para Moro continuar como eterno algoz do ex-presidente Lula.