Publicado originalmente no site Os Divergentes
POR HELENA CHAGAS, jornalista
O presidente eleito acaba de nomear seu terceiro ministro do DEM – Luiz Henrique Mandetta, para a Saúde – sem ouvir nem cheirar o próprio DEM. É um governo do DEM? Absolutamente. Mandetta, além de colega de Bolsonaro como deputado federal, tem o apoio da Frente Parlamentar da Saúde, das associações das Santas Casas e de outras representações do setor, assim como Tereza Cristina chegará ao Ministério da Agricultura pelos braços da bancada ruralista e Onyx Lorenzoni foi alçado à Casa Civil por sua amizade com o presidente.
E o DEM? Pode até aparentar satisfação por ter tantos dos seus no novo governo, com o qual possui afinidade política e ideológica. E está até preparando uma reunião de sua direção, nos próximos dias, para discutir o apoio oficial e forma ao governo. Mas, para o novo presidente, tanto faz como tanto fez. O DEM sabe, como a maioria dos partidos tradicionais, que está sendo comido pelas beiradas por Bolsonaro, como mingau quente, e que não terá maior influência institucionalmente sobre os rumos do governo.
Ignorando indicações partidárias para mostrar que quer mesmo acabar com o toma-lá-dá-cá, Bolsonaro tentará governar na base do varejo, com o apoio de bancadas temáticas como a da Saúde e as BBB – do Boi, da Bala e da Bíblia, que o apoiaram na campanha. Com isso, tenta implodir o sistema partidário tradicional.
Uma jogada de risco, e é difícil que o novo presidente consiga aprovar sua agenda no Legislativo e governar assim. Por duas razões principais:
- Os partidos servem hoje de base a todas as negociações políticos e legislativas. Na Câmara e no Senado, as maiorias são formadas partidariamente, as decisões sobre a pauta e todas as indicações para relatorias, comissões e funções importantes são feitas pelas lideranças partidárias e são as cúpulas dos partidos que têm autoridade para fechar questão sobre temas em votação e punir eventuais dissidências.
- Com a substituição dos partidos pelas bancadas temáticas, a maior probabilidade é que o toma-lá-dá-cá só mude de guichê, pois as pessoas são as mesmas, o sistema eleitoral não passou por qualquer reforma e os métodos de fazer política não mudaram.