Diz o ditado que quem sai aos seus, para o bem e para o mal, não degenera.
Comumente aplicado para referir-se ao caráter herdado dos pais, não seria diferente num governo gestado no ódio, na mentira, na violência e na intolerância.
Pautado nessa lógica, já se contabilizava mais de uma dezena de ministros oficializados para o próximo mandato do executivo nacional quando eis que surge o nome de Mozart Neves Ramos para a pasta da Educação.
Seria ele, por assim dizer, a exceção que confirma a regra.
Educador, escritor, ex-reitor da UFPE, ex-secretário de Educação do estado de Pernambuco e atual diretor do Instituto Ayrton Senna, Ramos é considerado um pensador e ideólogo moderado.
Nesse vasto deserto de ideias que se transformou a equipe ministerial de Jair Bolsonaro, seria um oásis de lucidez e serenidade capaz de dar alguma esperança nessa dura travessia que fomos obrigados a passar.
Seria se ao menor estalo de honestidade intelectual não surgisse das trevas a malta de hipócritas, corruptos e fanáticos religiosos à blasfemarem suas estupidezes morais em prol de um Estado lascivo eticamente.
Foi questão de horas após o primeiro sinal da indicação de Ramos para que a bancada evangélica destilasse o seu ódio e exigisse do futuro presidente o seu imediato reposicionamento.
Bolsonaro, que sabe o peso que pastores tiveram na sua eleição a enganar e chantagear uma legião de fieis incautos, sequer pestanejou.
Prontamente negou a indicação e já partiu para alguém mais, digamos, alinhado ao conceito de retidão ideológica dessa gente.
E para que não se reste dúvidas acerca do caráter doutrinário e ideológico que norteia o novo governo, o deputado federal e membro da igreja Assembleia de Deus, Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ), um dos mais revoltados, explicou a sua ira:
“Para nós, o novo governo pode errar em qualquer ministério, menos no da Educação, que é uma questão ideológica para nós”.
Fora tudo, é realmente curioso o conceito de “errar” da bancada evangélica.
Completamente indiferentes com a quantidade de indicados que estão sendo investigados por corrupção, foi justamente com alguém que não levanta questionamentos de ordem política, criminal e partidária que se sentiram ofendidos.
Seja como for, imposta a sua vontade, a bancada evangélica já trata de emplacar o Procurador da República Guilherme Schelb, um fervoroso defensor do infame “Escola sem partido” e pertencente à mesma estirpe de desequilibrados como Ernesto Araújo, o lunático que comandará o Ministério das Relações Exteriores.
Como se vê, devemos agradecer aos evangélicos, de forma geral, a completa vocação para a perversão do futuro governo.
Sem as suas valiosas contribuições, Bolsonaro não poderia contar com uma equipe de ministros exclusivamente formada por punguistas, hipócritas e fanáticos.
Como numa referência bíblica, o futuro presidente e seus ministros foram providos à imagem e semelhança de quem os elegeu.
Como diria Cabo Daciolo nessa retumbante farsa de Estado laico: “Glória a Deus”.