Segundo observou o Na telinha, os números conquistados pelos concorrentes da Globo na última quinta-feira (22), quando nove programas do canal perderam a liderança, podem, intrigantemente, sinalizar um movimento maior que apenas um avanço de atrações do SBT e Record TV, mas a ausência de uma grade que gere identificação maior com o conservadorismo, tendência crescente em todo o mundo.
O império de comunicação que hoje é a Globo teve seu início na época da Golpe de 64, quando, lado a lado, militares e diretores da emissora transformaram o veículo, praticamente, na única fonte de informação e entretenimento entre os telespectadores brasileiros.
Quando montou a TV Globo, Roberto Marinho nomeou Boni e Walter Clark para comandarem o novo canal e dando liberdade de ação aos dois, ladeados por Joe Walash no comando financeiro.
Quando chegou na emissora, em 1967, Boni vinha de uma passagem pela TV Excelsior. De lá, trouxe a ideia, originalmente criada pelo jornalista Álvaro De Moia, de uma grade no prime time, horário nobre, dividida na seguinte ordem: novela, telejornal, novela e linha de show. Um desenho de programação que funciona até os dias de hoje.
Atravessando uma época de período militar, Boni soube decodificar o que uma sociedade buscava se identificar assistindo a tela da Globo. Diferente do que ocorre hoje, a pontualidade do início da veiculação dos programas na grade serviam com referência para acertar o relógio do público. Em consequência disto, a liderança de audiência era natural e compacta. O canal da família Marinho atingia mais de 80% na preferência dos telespectadores. E isso permaneceu durante anos.
Porém, nesta semana, houve um blackout na audiência. A Globo enfrentou uma quinta-feira de terror e deu sinal que o modelo da atual grade precisa passar por profundas modificações artísticas, e me arrisco dizer, até ideológicas.
elo seu desempenho na audiência, é nítido que existem problemas artísticos e de execução nesses projetos que perderam a liderança. Mas paralelamente a isso, esse cenário pode ser reflexo de um fenômeno que vem ocorrendo na sociedade em todo o mundo: a retomada do conservadorismo das classes média, média alta e baixa, que comandam o mercado de consumo. Um movimento que pode não estar encontrando seu reflexo dentro da programação da Globo.
No país, a eleição de Jair Bolsonaro refletiu nas urnas a força dessa nova onda conservadora e também de direita que surge. Os defensores e militantes das redes sociais do então candidato à presidência da República apontavam que o canal produzia uma grade que agredia a família tradicional e era esquerdizante.