Publicado originalmente no perfil de Facebook da autora
POR ISABELLA BARBOZA
Meu prédio novo não tem portaria. São dois portões, um pra rua e um interno, e ambos abrem pela mesma chave. Ao voltar de uma ida ao bar para reabastecer os litrões da minha casa, dois homens – precisa falar que brancos? – estavam entrando também. Um senhor em torno dos 70, 80 anos e o outro de uns 40 anos.
Ao entrar no prédio junto com eles, onde fica minha casa e que pago um aluguel nada barato, fui questionada se morava no prédio, pelo senhor de mais idade – um homem grosso e que ainda tentou fechar o portão em cima de mim. Respondi que sim. Mesmo assim ele se posicionou na minha frente, impedindo minha passagem. Detalhe eu estava mais arrumada que a própria Michelle Obama.
Desviei do racista e continuei meu caminho até o segundo portão. Ele então, não satisfeito, me pediu prova que eu morava ali e que mostrasse a chave. Perguntou meu apartamento. Pediu para eu abrir o segundo portão, para ver se eu tinha mesmo a chave. Deu carteirada quando meu amigo perguntou se ele morava ali, em tom de deboche. “Sou proprietário aqui”. Tudo isso na maior postura grosseira, sempre me olhando de cima a baixo e fazendo cara de nojo para mim, principalmente.
E a cereja do bolo foi que essa dupla de racistas ainda ficaram putos ao ver que eu tinha a chave, ao falar o apartamento e ao subir e não ficar dando corda pros KKK me enforcar. Faltou bem pouco praquele velho me segurar pelo braço e chamar a polícia.
Quando nós negros falamos em rever seus privilégios, é exatamente isso. Nem na minha casa, que batalho tanto para manter e pagar, eu posso entrar sem ser mal tratada e questionada. Nem no conforto do meu lar eu sou poupada do racismo alheio. Nem mesmo na minha própria casa me respeitam.
Não importa o dinheiro que eu tenho, nem que eu estava mega bem arrumada. O que importou para eles foi a cor da minha pele, como uma neguinha vai morar no mesmo prédio que eu? Vou morar sim, querido. Vou morar, vou ocupar e vai ter preto em todo lugar.