Em abril, áudios vazados de Chico Pinheiro criticando Sergio Moro e desejando “paz e sabedoria” a Lula levaram o diretor de jornalismo da Globo, Ali Kamel, a enviar à equipe um email sobre o uso das redes sociais.
“O maior patrimônio do jornalista é a isenção. Na vida privada, como cidadão, pode-se acreditar em qualquer tese, pode-se ter preferências partidárias, pode-se aderir a qualquer ideologia. Mas tudo isso deve ser posto de lado no trabalho jornalístico”, escreveu.
“A Globo é apartidária, independente, isenta e correta (sic). Cada vez que isso acontece, o dano não é apenas de quem se comportou de forma inapropriada nas redes sociais. O dano atinge a Globo. E minha missão é zelar para que isso não aconteça.”
Pau que bate em Chico não bate em, por exemplo, Alexandre Garcia, que exerce no Facebook o legítimo direito de puxar o saco de Jair Bolsonaro.
Seu mais recente artigo mereceu elogio sincero do personagem: “Grato pela menção e reflexão, @alexandregarcia! Um forte abraço!”, escreveu no Twitter.
A peça de Garcia é constrangedoramente sabuja, mas não exatamente surpreendente vinda de um ex-porta voz de João Figueiredo que nunca deixou de gostar de homens de uniforme.
Jair, em resumo, é o messias que veio para nos salvar para sempre do comunismo. Faltou falar do “marxismo cultural”, mas isso não demora.
Alguns trechos:
Em dois meses, minha mãe completa 100 anos de vida e diz que nunca viu nada igual ao que está testemunhando hoje. Ela passou pela ditadura Vargas, pelas tentativas comunistas de tomada do poder, a começar em novembro de 1935, depois por tantos governos diferentes e tantos planos de salvação nacional, mas nunca viu uma reação como agora, contra o estado de coisas em que enterraram o país. (…)
Eu mesmo, em meus quase 80 anos de Brasil, nunca vi nada igual. Eu diria que se trata de uma revolução de ideias, tal a força do que surgiu do cansaço de sermos enganados.
Mencionei a primeira tentativa comunista de tomada do poder, há 83 anos. Naquele 1935, houve reação pelas armas. Nas outras tentativas, no início dos anos 60, a reação veio das ruas, que atraiu as armas dos quartéis. A última, veio pelo voto, na mesma linguagem desarmada, com que começou a sutil tentativa tucana, para desaguar nos anos petistas, já com a tomada das escolas, dos meios de informação, da cultura – com aquela conversa que todos conhecemos. (…)
Reagimos no voto, 57 milhões, mais alguns milhões que tão descrentes estavam que nem sequer foram votar. O candidato havia sido esfaqueado para morrer, nem fez campanha, não tinha horário na TV, nem dinheiro para marqueteiro. Mas ficou à frente do outro em 10 milhões de votos.
Ainda não se recuperou da facada, a nova intentona; precisa de mais uma cirurgia delicada, mas representou a reação da maioria que não quer aquelas ideias que fracassaram no mundo inteiro, que mataram milhões para se impor e ainda assim não se impuseram.
O que minha mãe nunca viu é que antes mesmo de o vitorioso tomar posse, as ideias vencedoras da eleição já se impõem. (…)
O exemplo mais claro desse movimento prévio ao novo governo é a retirada cubana, no rompimento unilateral de um acordo fajuto, de seus médicos, alugados como escravos ao Brasil. Cuba “passou recibo” na malandragem e tratou de retirá-los antes que assumisse o novo governo, na prática confessando uma imoralidade que vai precisar ser investigada no Brasil, para apontar as responsabilidades, tal como ainda precisam ser esclarecidos créditos do BNDES a ditaduras, doação de instalações da Petrobras à Bolívia, compra de refinaria enferrujada no Texas, e tantas outras falcatruas contra as quais a maioria dos brasileiros votou em outubro.
A genitora de Garcia é mais ou menos como a de Norman Bates, aparentemente, dando conselhos preciosos ao menino.
Na Globo, quando é para fazer proselitismo do lado certo, não tem problema. Todos os bichos são iguais, mas alguns são mais iguais do que outros.