Para a pastora evangélica e futura titular do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos Damares Alves, o único lugar onde as crianças estão salvas é a igreja. Não é a escola, o lar, projeto social ou qualquer outro espaço.
“Todas as instituições que defendem crianças faliram e falharam na proteção da infância no Brasil. A escola falhou, não é mais um lugar seguro para as crianças. Os clubes não são seguros. Nem os consultórios médicos são mais seguros. Não existe lugar seguro. Todos falharam. Só há um lugar seguro: a igreja, o templo”, disse ela em um vídeo identificado como uma palestra da União de Crianças da Assembleia de Deus de Brasília.
Tá “serto”, como se diz na língua dos memes.
Com tantos casos de pastores que abusam ou estupram crianças, a afirmação de Damares Alves é completamente desconectada da realidade e por isso inadmissível para uma ocupante de cargo público no primeiríssimo escalão.
Uma pesquisa rápida no Google pelas palavras “pastor abusa” recupera notícias como “Pastor preso dava dinheiro após abusar de adolescentes e crianças”, “Pastor evangélico é acusado de abusar sexualmente de neta” e “Pastor é acusado de abusar de criança de 5 anos”.
São manchetes de crimes registrados no Mato Grosso, Paraná e Minas Gerais, respectivamente, mas há outros registros semelhantes.
Um caso recente daqui do Espírito Santo foi notícia nacional pela crueldade. O pastor Georgeval Alves está preso acusado de estuprar e agredir o enteado e o filho, de seis e três anos, e em seguida atear fogo nas crianças ainda vivas para simular um incêndio acidental.
No dia seguinte ao crime, antes de ser desmascarado, o pastor pregou em um culto dando como testemunho a “tragédia” que matou as crianças. Depois, saiu para lanchar com a esposa e amigos, com direito a selfies.
Embora seja inconcebível considerar as violências acima intrínsecas à religião evangélica – há os crimes da igreja Católica, mas acredito que Damares se referiu às protestantes -, não se tratam de casos isolados.
Deveria, por isso, haver uma certa atenção das autoridades em relação aos pastores e pastoras de má índole. Mas como a futura ministra disse, a igreja é um lugar seguro.
Vai ver para ela os abusadores são falsos profetas a serviço do diabo.
Este pensamento tem espaço no púlpito da igreja, concorde ou não com ele. Só que a partir de janeiro Damares vai ocupar um gabinete na Esplanada dos Ministérios com a obrigação de servir aos interesses do povo independente da crença religiosa.
O problema é que Damares parece mais íntima da Bíblia que da Constituição Federal, condição que a capacita para uma gestão apocalíptica à frente do ministério. Às mulheres, aos LGBT, indígenas demais minorias amparadas pela pasta, resta se preparar para o que virá, porque 2019 promete.