Este texto foi publicado originalmente no dia 9 de novembro de 2018.
Só há uma coisa que bolsominions detestam mais do que mulheres: as mulheres que se posicionam.
Fernanda Lima, apresentadora global, entrou para a lista – gigantesca, frise-se – de mulheres odiadas pelos bolsominions depois que convidou Mônica Benício – a viúva da vereadora executada Marielle Franco – e sua filha, Anielle Franco, para participarem da última edição de seu programa Amor & Sexo – uma boa coisa pra ver na globo, aliás (embora seja difícil pra mim confessá-lo).
Sem citar nomes, Fernanda se posicionou contra o fascismo, e se emocionou quando elas comentaram a execução da vereadora.
O choro não foi só dela: o set de gravação inteiro se comoveu com a presença das duas.
“Chorou porque é comunista”, dizem eles.
Não. Chorou porque é humana.
Qualquer um que ainda preserve em si qualquer resquício de humanidade de comove pelo silenciamento político da voz de uma mulher como Marielle Franco, sobretudo em tais circunstâncias.
Apesar da minha consciência de classe, da minha procedência latina e nordestina e da minha sexualidade, juro não tenho nada contra essa esquerda branca Gregório Duvivier.
Viva essa gente que usa seus privilégios pra amplificar a voz de quem é silenciado diuturnamente pelo Estado e pela “grande” mídia. Se feminismo virou modinha e ganhou espaço – um senhor espaço! – em um programa global no horário nobre, viva.
Se Fernanda Lima, branca e sulista, está do nosso lado – viva! – que seja muito bem-vinda, mas, convenhamos: essa gente não tem nada de comunista, assim como a Rede Globo de televisão, e qualquer afirmação em contrário não passa, sabemos, de delírio.
Aliás, o programa Amor & Sexo tem apresentado programação cada vez mais progressista e com cara de esquerda festiva, e não é de hoje: um verdadeiro lacrashow, em que a Globo reúne parte de seu elenco jovem e antifascista pra fazer aquela velha mea culpa.
Se fosse pra chamar o Amor & Sexo e a Fernanda Lima de comunistas, deveriam tê-lo feito antes – mas os bolsominions estão sempre atrasados.
O grande problema deles não parece ter sido necessariamente com Fernanda Lima, nem mesmo o seu programa – que já deveria ter incomodado os bolsominions há mais tempo. O problema foi a homenagem a Marielle Franco, escancaradamente odiada pelos fãs de Bolsonaro.
O problema da extrema direita com Marielle é um sintoma grave: desonram sua história, quebram placas de ruas com seu nome, usam uma tragédia que chocou o mundo para orgulhosamente reafirmarem sua falta de humanidade como um trunfo.
São quase oito meses que Marielle e Anderson foram executados em um brutal crime político. Mais de duzentos e quarenta dias de silêncio, de desrespeito à sua memória, de placas com seu nome quebradas, de tentativas desesperadas de manchar na história o nome de uma mulher que – quer queiram eles, quer não – já é uma heroína.
Marielle vive, e amanhã há de ser outro dia.