Como um sujeito gorducho, calvo e que sua no palco reinventou o negócio da comédia.
O melhor comediante do mundo é um sujeito obeso, dono de uma calva com alguns raros fios ruivos, que sua no palco, a camiseta preta ensopada diante das câmeras. Aos 45 anos, Louis C.K. (abreviatura fonética de Székely, seu impronunciável sobrenome húngaro) tornou-se o homem mais bem sucedido do humor com um repertório radicalmente focado em si próprio e em seus problemas. Você vai dizer que Woody Allen, entre tantos outros, já fazia isso. Mas Louis dá um passo adiante em termos de autoironia, maldade, simplicidade — e pelo fato de parecer terrivelmente normal, como você e eu. O chamado “everyman artist”.
Fala de seu casamento, de seus hábitos de masturbação, de suas psicoses, de sua relação com Deus. Faz troça de suas filhas (ele é divorciado e pai de duas meninas). Mas com amor.
“Quem manda em você são as crianças. Eu tenho dois filhos. É uma estupidez. Não façam isso.”
“Quando você casa, você tem um relacionamento importante e batalha por ele com sua mulher. Mas então vocês têm um filho. E você olha para seu filho e diz: ‘Cacete, essa é minha criança. Ela tem meu DNA. Ela tem meu nome. Eu morreria por ela’. E você olha para sua mulher e pensa: ‘Quem é você? Você é uma estranha’”.
Não é cerebral como Jerry Seinfeld, por exemplo. Suas piadas são urgentes e, até certo ponto, toscas. Não comenta sobre celebridades e não é pedante. Faz comentários sociais e políticos (suas tiradas com soldados em aviões causaram algum desconforto nos EUA). Não apela para as baixarias pseudo-politicamente incorretas dos humoristas brasileiros. O único gordo com quem faz piada é ele mesmo. Não tira sarro de deficientes. Não detona negros ou pobres. O que não significa que não seja agressivo ou que não incomode.
Louis C.K. não reinventou a comédia – mas está reinventando o negócio da comédia, usando a internet. Ele criou um site em que vende seus shows de stand-up em vídeo e áudio. Cobra um valor relativamente baixo, de 5 dólares, pelo download. Pede para as pessoas lembrarem que não é uma companhia ou uma corporação. “Sou apenas um cara qualquer”, diz. Ele banca a produção. Assim como ele mesmo vende os ingressos de suas apresentações, livrando-se de atravessadores como a Ticketmaster, que fica com 40% do valor. Com isso, faturou 1 milhão de dólares pelo especial Ao Vivo no Beacon Theater (que, aliás, está disponível no canal de internet Netflix).
Louis C.K. vem de uma família disfuncional, meio mexicana, meio irlandesa, e foi mecânico antes de subir num palco para contar piadas, em 1984. A recepção horrorosa da plateia levou-o a tentar outra vida durante os dois anos seguintes. Escreveu para David Letterman, Conan O’Brien, Chris Rock etc. Dirigiu filmes independentes que foram massacrados pela crítica. Teve uma série na HBO, que micou. O produtor, quando a coisa começou a desandar, pediu para ele incluir cenas de nudez da atriz que fazia o papel de sua mulher. Ele se recusou porque não foi o que combinara com ela. Tem um seriado, Louie, lançado em 2010, que voltará em 2014 no FX.
Em janeiro, a revista Rolling Stone o colocou em primeiro lugar numa lista de comediantes. A New Yorker o comparou a Gogol. Alguém o definiu como “um cara engraçado que contém multidões”.
Ele tem outra opinião. “Todo dia de manhã, eu abro meu olhos e recomeço o programa da minha miséria. Eu abro os olhos, me lembro de quem eu sou, como sou, e então penso… Ugh!”