O tiro no pé de Queiroz: revenda de carros é perfeita para manipular valores faturados. Por Carlos Fernandes

Atualizado em 27 de dezembro de 2018 às 15:08
Queiroz fala ao SBT (Foto: Reprodução/SBT)

A entrevista concedida pelo ex-assessor de Flávio Bolsonaro à emissora oficial do laranjal bolsonariano, revelou verdades inquestionáveis.

Nenhuma delas, porém, advindas do que falou explicitamente o ex-PM, ex-assessor e atual “máquina de fazer dinheiro”, Fabrício Queiroz.

Muito pelo contrário, por sinal.

A cada explicação esfarrapada que dava, vinha à tona exatamente o que queria esconder. Sem contar, é claro, com as vezes em que as pernas curtas de suas mentiras não alcançavam sequer uma resposta medíocre para contar como a da simples pergunta de em qual hospital ele havia se internado.

O gaguejar e o desfecho final do “depois eu revelo”, seria um ótimo enredo pastelão se não fosse todo o país a estar sendo feito de palhaço.

Enfim, o fato é que após driblar a justiça do Rio de Janeiro por duas vezes seguidas, o corado e bem-disposto Queiroz apareceu sorridente para dizer que a sua movimentação financeira milionária é proveniente da compra e revenda de carros usados.

É seguramente a pior desculpa que ele poderia dar, mas, justiça seja feita, dada as circunstâncias, é a única que lhe convém.

Quem faz parte do setor bancário e já fez vários cursos de Combate e Prevenção à Lavagem de Dinheiro, sabe perfeitamente que compra e revenda de carros (ao lado da pecuária) são atividades com alta incidência de ilícitos justamente em função da facilidade de manipular os valores faturados.

No caso da pecuária, fiquemos com o exemplo de um grande fazendeiro que dispõe de milhares de cabeças de gado. Em todo esse universo é fácil manipular – e difícil investigar – quantas cabeças nasceram, quantas morreram, quantas foram abatidas para o corte e abastecimento de frigoríficos e quantas foram transacionadas vivas.

É um mercado perfeito para sonegar imposto e lavar dinheiro. Mas, convenhamos, o nosso querido Queiroz não dispõe sequer de uma gleba de terra com um par de novilhos a mostrar para as autoridades.

Daí chega-se ao comércio de veículos usados. Ainda que o cidadão não tenha uma mísera concessionária onde possa expor e divulgar a sua, digamos, frota de veículos, nada o impede de dizer que o fazia individualmente, com todo o talento que Deus lhe deu para o negócio.

Como nesse ramo específico a coisa toda é feita clandestinamente, os “registros” dos negócios realizados são tão confiáveis quanto sua versão para o cheque depositado na conta da futura primeira-dama, ou seja, absolutamente nada.

A pessoa que compra um carro usado para revender, não o coloca em seu nome para depois repassar ao seu cliente. A transferência da propriedade do veículo é feita do dono original (que ao vender o carro já deixou o DUT assinado) diretamente para o comprador final, nada ficando, portanto, em nome do intermediário.

Nada oficializado, Queiroz pode dizer que vendeu quantos carros quiser na proporção direta que encontre outros laranjas a confirmar sua história.

É claro que nesse caso em particular, tudo foi feito de forma tão descarada que mesmo com todas essas facilidades de burlar a investigação, será muito difícil explicar as “coincidências” de transações tão voláteis justamente com as datas de pagamento dos servidores da ALERJ.

Numa investigação minimamente séria, a culpa do senhor Fabrício Queiroz e de membros da família Bolsonaro já estaria fortemente documentada. Mas, como sabemos, convicções de determinado lado do espectro político pesam mais do que qualquer batom na cueca.

Só resta agora saber se Polícia Federal, Ministério Público Federal e Justiça Federal se juntaram a Jair Bolsonaro na sua curiosa missão de lavar essa cueca no tanque de roupa suja na Ilha de Marambaia.