TENHO NAS MÃOS O livro Johnny, lançado pela Record. É a história de um agente do serviço secreto inglês, o MI6, o Johnny do título, alemão de nascimento. Ele teve uma participação importante na história do Brasil: infiltrado entre os comunistas brasileiros, relatou ao governo Vargas e a seus chefes ingleses os bastidores do movimento que pretendia dar numa revolução socialista no Brasil, em 1935.
Sem Johnny, a Intentona Comunista, como o movimento foi posteriormente chamado, seria muito difícil. Ao contrário do que alardeava o líder Luíz Carlos Prestes, os comunistas no Brasil eram fracos e malpreparados. As forças do regime provavelmente esmagassem o levante em condições normais. Com Johnny participando das discussões dos comunistas e repassando-as, a intentona era simplesmente impossível.
É um livro que vale a pena ler, nem que seja apenas pelos dois capítulos em que é tratada a passagem de Johnny pelo Brasil.
Você percebe o quanto o Brasil era usado como um quintal de potências estrangeiras. O chefe da polícia política de Vargas, Felinto Muller, teve a seu lado em momentos cruciais um oficial da Gestapo. Quando o comunista Harry Berger foi preso no fragor da intentona, o interrogatório e a tortura foram obra do homem da Gestapo. “Kommunist Herensohn!”, ele disse a Berger num camburão enquanto ia moendo com um quebra-nozes um dedo e pedindo – em vão — informações. (Comunista filho da puta!”) Berger acabaria enlouquecendo com os maus tratos a que foi submetido preso.
Johnny dava informações diretamente a Alfred Hutt, alto executivo da Light no Brasil que, na verdade, era agente do MI6.
Este era o Brasil.
A política externa de Lula tem sido extremamente atacada por muitos. Baixada a poeira, vai ficar claro que foi um dos pontos fortes da administração que se encerra. O Brasil, finalmente, na realidade e na percepção, deixou de ser quintal.