Nos 10 anos da invasão iraquiana, o ex-soldado e ativista Tomas Young anuncia seu protesto mais contundente: o suicídio.
Tomas Young tinha 22 anos quando se alistou no exército americano. Foi dois dias depois dos ataques às Torres Gêmeas, em 11 de setembro de 2001. Tomas, que era de Kansas City, não foi o único jovem a tomar essa decisão naquele momento.
O que ele não contava é que, menos de três anos depois de ingressar na corporação, fosse parar no Iraque. No dia 4 de abril de 2004, seu comboio foi atacado por insurgentes na cidade de Sadr. Uma bala de um rifle AK-47 se alojou em sua espinha e outra em seu joelho. Ele nunca mais pôde andar – e, por causa de complicações gradativas, acabou tendo os demais movimentos comprometidos, entre outros problemas. Hoje sobrevive graças aos cuidados de mulher, Claudia Cuellar.
O acidente transformou Young num dos mais contundentes ativistas contra a Guerra do Iraque. Em 2007, sua história foi contada no documentário Body of War, que mostra de maneira crua seu dia-a-dia. (Você pode assistir na íntegra aqui)
Tomas Young está com raiva de George W. Bush e vai se vingar. Como?
Se matando.
Ele anunciou que quer morrer em abril ou maio. Nas próximas semanas, vai parar de tomar medicamentos e abrir mão da alimentação parenteral. Disse que a deterioração de seu corpo o impede de fazer de outro jeito e que não quer que sua mulher participe diretamente desse ato – ministrando uma overdose de pílulas para dormir, por exemplo. Claudia, assim como as pessoas próximas do casal, apoia a decisão. “Quando eu partir, quero estar alerta e consciente”, afirmou para o jornalista Chris Hedges. “Quem quiser pode me ligar para se despedir. É uma maneira mais justa de tratar as pessoas do que deixar uma nota de suicídio”.
Na verdade, ele deixou mais que uma nota: uma carta aberta endereçada a Bush e seu vice Dick Cheney, de um “veterano que está morrendo”. Young os acusa de “crimes de guerra colossais, pilhagem e finalmente assassinato.”
Eis alguns trechos:
Eu escrevo essa carta em nome de maridos e mulheres que perderam seus entes queridos, em nome das crianças que perderam seus pais, em nome de pais e mães que perderam filhos e filhas.
Eu não estaria escrevendo esta carta se tivesse sido ferido em combate no Afeganistão. Eu não teria que ficar na minha cama, o meu corpo cheio de analgésicos, minha vida desaparecendo, e lidar com o fato de que centenas de milhares de seres humanos, incluindo crianças, inclusive eu, foram sacrificados por vocês pela ganância de companhias de petróleo, por sua aliança com os xeques do petróleo na Arábia Saudita, e por suas visões insanas de império.
Eu não entrei no exército para ir para o Iraque, um país que não teve participação nos ataques do 11 de Setembro e não era uma ameaça a seus vizinhos, muito menos aos Estados Unidos. Eu não entrei no exército para para “liberar” iraquianos ou desativar fábricas fantasiosas de armas de destruição em massa ou para implantar o que vocês cinicamente chamaram de “democracia” em Bagdá ou no Oriente Médio.
Nós fomos usados. Nós fomos traídos. Nós fomos abandonados. Você, senhor Bush, se diz um cristão. Mas mentir não é pecado? Matar não é um pecado? Roubo e ambição egoísta não são pecados? Eu não sou um cristão. Mas eu acredito no ideal cristão. Eu acredito que o que você faz para o menor de seus irmãos você faz para si mesmo, para sua própria alma.
Meu ajuste de contas está por vir. O de vocês vai chegar. Espero que vocês sejam levados a julgamento. Mas, principalmente, eu espero que vocês encontrem a coragem moral para enfrentar o que fizeram para mim e muitos outros que mereciam viver. Espero que antes que seu tempo na Terra termine, como o meu está agora para terminar, vocês encontrem a força de caráter para estar diante do público americano e do mundo, e em particular do povo iraquiano, e implorar por perdão.
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