Editorial do Estadão revela que parte da elite já se arrependeu da aventura Bolsonaro. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 24 de janeiro de 2019 às 7:26
Bolsonaro fala em Davos

A editorial do Estadão de hoje reflete o que devem pensar muitos eleitores que deram a Bolsonaro a chance de se mostrar à altura da presidência do Brasil: estão arrependidos.

Ao tratar da situação patética que gerou ao fugir de uma entrevista coletiva, o jornal escreveu:

“O cancelamento da entrevista comprovou suas más condições para o exercício de uma função física e psicologicamente exigente”.

O Estadão, ecoando o que devem pensar muitos dos homens de classe média alta que embarcaram na onda do “Mito”, também criticou o discurso de Bolsonaro:

“Produziram um mexidão com ideologia e insuficiência de informação relevante. Foi mais uma versão requentada de um discurso eleitoral. Mesmo os frequentadores mais conservadores de Davos devem estar pouco interessados na restauração dos valores da família brasileira. Os menos pacientes devem ter achado patética a afirmação sobre como foi escolhida a equipe de governo”.

O Estadão é um jornal decadente, mas ainda encontra repercussão junto ao extrato mais conservador da população, e é por isso que o texto indica o esboroamento do que restava de credibilidade de Jair Bolsonaro.

O jornal, assim como todos os seus parceiros velha imprensa, sabia que Bolsonaro seria um desastre, mas preferiu omitir de seus eleitores um jornalismo minimamente crítico que revelasse quem de fato o capitão é.

Com uma visão estreita, concentrou suas baterias no ataque a Lula, que na época já estava preso, e abriu, inclusive, suas páginas para o mais importante articulador da campanha de Bolsonaro: o general Eduardo Villas Bôas.

Foi pelas páginas do jornal que o então comandante do Exército pressionou o TSE, na véspera do julgamento do registro da candidatura de Lula, para que não permitisse a candidatura de “um ficha suja”.

Não citou o nome de Lula, mas o recado era evidente. “A sociedade não vai aceitar”.

Quem?

A maioria dos eleitores que, à época, manifestavam intenção de votar no ex-presidente é que não era.

Nos primeiros dias de governo, Bolsonaro agradeceu a Villas Bôas pelo que fez por ele e disse que ambos tiveram uma conversa que levará para o túmulo.

“Não fosse o senhor, eu não estaria aqui”, disse.

Setores da elite brasileira brincaram de feiticeiro ao sufocar a democracia com uma aplicação da lei que violava a jurisprudência do TSE, a Constituição e uma resolução da ONU.

Foi uma atitude irresponsável, típica dos bolsonaristas que diziam: “Vamos dar uma chance a ele. Se não for bom, a gente tira”.

Como se isso fosse fácil.

Bolsonaro sempre fez política sabotando a democracia.

Surgiu no cenário nacional com um artigo na revista Veja em que atacava seu comandante, o ministro do Exército à época, Leônidas Pires Gonçalves.

Depois, foi acusado de planejar uma ação terrorista para forçar decisões no Exército.

Defensor da tortura, da ditadura e das milícias, sempre esteve do lado oposto ao que se poderia classificar de cultura civilizatória.

Foi contra a lei do feminicídio e a extensão das leis trabalhistas a empregadas domésticas.

Defendeu salários menores às mulheres, porque podem engravidar.

A lista de absurdos é grande, e não se faz necessário registrá-la aqui.

Importa é saber que, ao informar seus leitores da inépcia do capitão para o exercício da presidência, o Estadão esquece de fazer uma autocrítica e de pedir desculpas ao Brasil por não ter cumprido seu papel de informar corretamente, e no tempo adequado, seus leitores.

O Estadão já se arrependeu.