O prefeito de São Paulo, que herdou a administração com a renúncia de Doria para concorrer ao governo do Estado, aproveita o início do ano para dar os últimos retoques na reforma que promoveu nas subprefeituras e em secretarias. Quer uma cara diferente para a administração neste ano para melhorar as chances de reeleição em 2020.
Tudo leva a crer que Doria vai acabar repetindo o papel de José Serra em 2008, quando, na condição de governador do estado, apoiou Gilberto Kassab contra o candidato do seu partido, Geraldo Alckmin.
Alguns motivos pesam contra Bruno Covas quando se discute o apoio do Palácio dos Bandeirantes.
O primeiro é a sua viabilidade eleitoral.
João Doria e seus correligionários consideram inoperante o perfil administrativo de Bruno. Não tem marca, não tem ação. Deixam a entender que Bruno não é do ramo – alguns alegam até que ele não gosta mesmo de trabalhar.
Outro ponto de conflito é pessoal.
O “gestor” ainda não engoliu a trairagem de Bruno no ano passado. O prefeito não moveu uma palha por Doria na eleição.
Não participou de agendas, negou-se a dar declarações públicas mais enfáticas e é criticado inclusive pela desconfiança de que esteve por trás do apoio explícito do tucano Paulo Alexandre Barbosa, prefeito de Santos, ao candidato Márcio França.
João Doria adora fazer política, mas seu estilo é visceral.
Articula com o fígado, não com cérebro e coração — para usar uma expressão do meio. Não perdoou e não considera ter motivo para se reconciliar com o prefeito.
E como só pensa na presidência em 2022, quer usar a prefeitura da capital como escada para alcançar o seu objetivo. E aí aparece uma figura que poucos imaginam ser viável, mas que hoje é o plano A do gestor: Henrique Meirelles.
O ex-ministro da Fazenda de Temer, ex-candidato do MDB à presidência em 2018, e atual secretário de Finanças do estado está sendo estimulado para concorrer à prefeitura no ano que vem.
Nos bastidores, o que se diz é que o apoio a Meirelles faz parte do acordo entre ele e o governador para que aceitasse a incumbência de cuidar das finanças do estado.
Meirelles tem a seu favor o apoio massivo dos setores produtivo e financeiro da capital, a experiência e especialmente a vontade de comandar a principal metrópole e o terceiro orçamento do país.
Até que as coisas se decidam, Doria vai levar Bruno em banho-maria. Não quer atrapalhar seus planos.
O governador e o prefeito fizeram um acordo: na renovação do partido neste primeiro semestre, Bruno vai indicar um ex-assessor, Fernando Alfredo, para ocupar a presidência do diretório municipal do PSDB, enquanto Doria coloca Marcos Vinholi, seu secretário de Desenvolvimento Regional, no comando da Executiva estadual.
A menos de 18 meses da eleição que vai apontar o novo prefeito da capital, o PSDB aparece com a cara que sempre lhe foi familiar: um puxando o tapete do outro – e todos pensando unicamente nos seus interesses particulares.