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POR MIGUEL ENRIQUEZ
Não deixa de ser intrigante o telefonema que o presidente Jair Bolsonaro deu na manhã de ontem, sexta feira 8, ao apresentador Carlos Nascimento, do SBT.
Segundo relatou no ar o âncora do SBT Brasil, não se tratou de uma entrevista previamente combinada. ”Ele queria fazer uma recomendação médica, pois eu passei por uma cirurgia muito parecida com a dele, parcialmente”, afirmou.
Como já admitiu publicamente, Nascimento foi submetido a uma cirurgia no intestino para a retirada de um câncer, que o afastou por nove meses da televisão, em 2014.
Bolsonaro, por sua vez, sofre os efeitos de uma facada de um “lobo solitário”, perpetrada em Juiz de Fora, no primeiro turno da campanha presidencial no ano passado.
No entanto, a despeito de todas as evidências do atentado, sobejamente registrado praticamente em tempo real, não faltaram desde então especulações de que o próprio Bolsonaro padeceria de uma enfermidade grave, não revelada pelas equipes médicas que o socorreram.
Embora o jornalista tenha frisado que as duas operações tenham sido parcialmente semelhantes, a inusitada iniciativa do presidente causa espécie.
Por que razão Nascimento, forte como um touro e que aparenta estar vendendo saúde, precisaria de conselhos de Bolsonaro, cinco anos depois de ter tido alta e declarado clinicamente curado?
Teria Nascimento tido uma recidiva – que, à primeira vista, não parece ser o caso –, o que teria levado o preocupado Bolsonaro a telefonar-lhe?
Ou será que, simplesmente entediado com a prolongada internação no hospital Albert Einstein, o presidente ligou apenas para jogar conversa fora, desrespeitando a determinação de seus médicos de repousar e falar o mínimo possível.
Em todo o caso, o apreço pelo apresentador é digno de nota.
Afinal, Bolsonaro transgrediu as determinações médicas, as mesmas que têm impedido que personagens importantes de seu governo, como seu vice, o general Hamilton Mourão, que certamente teriam assuntos importantes a tratar, pudessem se comunicar com ele durante todo esse período de internação.
Uma possibilidade mais prosaica é a de que Bolsonaro, que postou as declarações de Nascimento em suas redes sociais, pretendeu apenas por intermédio do canal amigo mostrar que está conseguindo reverter a maré de más notícias da última semana, com complicações como febre, infecção intestinal e até uma pneumonia.
E que já vislumbra uma alta hospitalar na próxima terça feira, dia 12.
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Publicado em 9 de fevereiro de 2019 e republicado em razão de ter sido um dos textos mais lidos do DCM em 2019.