Publicado originalmente na Rede Brasil Atual
Um dos entrevistadores do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, no programa Roda Vida de ontem (11), sugeriu ao ministro que empreendedores grandes ou pequenos cujas ações coloquem em risco o meio ambiente e a população, sejam obrigados a contratar seguros de risco, o que reduziria a necessidade de fiscalização. Salles concordou imediatamente: “Você deu o tom perfeito”. Não haveria nada demais no diálogo, se Gustavo Cunha Mello, creditado como “analista de risco”, não fosse dono da corretora de seguros Correcta, que oferece justamente os tipos de seguro que ele sugeriu ao ministro.
A Correcta se intitula “a maior corretora de seguros aeronáuticos do Brasil, bem como também opera com riscos industriais, riscos de petróleo, transportes, agrobusiness, garantias e fianças”. Ou seja, Mello poderia ser diretamente beneficiado pela ideia que propôs ao ministro durante uma entrevista em rede nacional.
“Os grandes países do mundo (…) exigem dos seus empreendedores de risco, estou falando de indústria química, mineração, grandes seguros. Tem que ter um seguro ambiental e um seguro de responsabilidade civil para danos extra muros. (…) Apresentar uma apólice resolveria o problema de fiscalização do próprio governo e salvaria os vizinhos”, sugeriu Mello. Que em seguida questiona: “O governo do senhor pretende mudar isso, passar a exigir um seguro mínimo, de acordo com atividade de risco?”
Salles aproveitou o momento para reafirmar sua ideia de que há fiscalização em excesso. E que liberar o governo da fiscalização de empreendimentos menores possibilitaria dar mais atenção às grandes obras. Antes de ser ministro, ele foi secretário de Meio Ambiente do ex-governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB). Sua experiência na área de meio ambiente, no entanto, se resume à atuação no Comitê de Desenvolvimento Sustentável da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Brasileira (CCILB).
“Nós precisamos ter esse realismo que você mencionou no seu comentário. Reconhecer que a há de fato limitações operacionais, legais e financeiras e entender quais são os mecanismos mais sofisticados e mais adequados para endereçar a solução correta. (…) Estas medidas mais modernas, que reconhecem e não criam situações hipotéticas (…) este é o tipo de ação que o governo tem que tomar”, afirmou o ministro.
Salles também demonstrou total desrespeito à memória do seringueiro e ambientalista Chico Mendes. “Eu não conheço o Chico Mendes, escuto histórias de todos os lados. Dos ambientalistas mais ligados à esquerda, que o enaltecem. E das pessoas do agro que dizem que ele não era isso que contam. Dizem que usava os seringueiros para se beneficiar”, afirmou. O apresentador do programa, Ricardo Lessa, questionou: “Se beneficiar do que? Ele é reconhecido pela ONU”. O ministro desdenhou: “O que importa quem é Chico Mendes agora?”.