Seria útil saber o que Israel tem a declarar sobre o pai do chanceler Ernesto Araújo e o caso do nazista que ele tentou impedir que fosse extraditado para julgamento.
A história contada pela Folha é do arco da velha.
Durante a ditadura, Henrique Fonseca de Araújo, então procurador geral da República, deu pareceres contra a extradição de Gustav Franz Wagner, conhecido como a “Besta de Sobibor”.
Tinha creditado em sua conta 250 mil assassinatos naquela campo de concentração polonês.
Segundo Henrique Araújo, Israel “não tinha competência” para o pedido porque “não era um Estado” à época dos crimes.
Wagner era conhecido por açoitar judeus regularmente, além de executá-los aleatoriamente.
“Talvez fora dali fosse civilizado, mas em Sobibor sua ânsia de matar não conhecia limites”, conta Moshe Bahir, sobrevivente de Sobibor, no livro “The Operaton Reinhard Death Camps” (“Os Campos de Morte da Operação Reinhard”), de Yitzhak Arad.
“Eu o vi espancar dois homens até a morte com um rifle porque não seguiram suas instruções corretamente, já que não sabiam alemão. Lembro de um jovem de 15 anos, Abraham, que ele foi acordar no dormitório, mas não ouviu seu chamado. Furioso, Gustav puxou o garoto da cama, começou a bater nele e, quando se cansou, deu um tiro na sua cara, na frente de nós todos e do irmão menor”.
Henrique Araújo recomendou também indeferir a extradição para Áustria e Polônia alegando prescrição segundo as leis brasileiras.
Wagner chegou ao Brasil em 1952 e foi trabalhar de caseiro num sítio em Atibaia. Foi descoberto nos anos 70 pelo famoso Simon Wiesenthal.
Preso em São Paulo, tentou se passar por um mero sargento.
Em 1979, o STF livrou sua cara. Um ano depois, morreu com uma facada no coração num aparente suicídio.
O nazismo é uma ferida que não se fecha. Especialmente em Israel.
Os israelenses — e não apenas as autoridades — precisam saber o papel do genitor do ministro para que um monstro ficasse impune.
Ministro este que hoje apregoa a mudança da Embaixada brasileira de Telavive para Jerusalém.
“Os pais ensinam os filhos a falar e os filhos ensinam os pais a guardar silêncio”, diz um velho provérbio iídiche.