Gustavo Bebianno ainda nem deixou o cargo, mas já começou a atirar.
Por enquanto, o tiro é para o alto, como se fosse de advertência, mas ele teria dito que tem munição para fazer um estrago.
Reportagem da revista Veja, de Edoardo Ghirotto e Eduardo Gonçalves, reproduz um diálogo que Bebianno teria tido com um interlocutor, por telefone.
Diante da hipótese de ser demitido, teria afirmado:
“Se isso acontecer na segunda, o Brasil vai tremer.”
Frase creditada a um interlocutor é, em geral, manobra de jornalistas para publicar uma informação sem expor o entrevistado.
Para o público em geral, a impressão que fica é a de que ele não deu entrevista.
Mas tudo o que é registrado foi ouvido pelo repórter do próprio autor da frase.
Quando Pedro Collor ameaçava detonar o irmão, o então presidente Fernando Collor, a revista Veja o entrevistava regularmente, mas, para o público em geral, era como se ele nunca tivesse falado com jornalistas.
Só mais tarde é que Pedro decidiu gravar a famosa entrevista e provocou estragos que abriu caminho para o impeachment.
A reportagem descreve também como teria sido o encontro entre Gustavo Bebianno e Jair Bolsonaro na tarde de ontem.
Bolsonaro teria oferecido um cargo de direção em Itaipu, com alto salário. Bebianno não teria concordado.
Segundo o relato, provavelmente feito pelo próprio ministro, ele recusou a proposta com a afirmação de que não fez campanha para ganhar dinheiro.
Bolsonaro falava com Bebianno, mas não olhava nos seus olhos. Dirigia-se ao vazio.
O ministro teria dado uma resposta dura ao presidente, ao lembrar que estava sendo vítima de deslealdade (justamente o tema do post dele de hoje no Instagram).
“Um comandante não pode alvejar um soldado pelas costas”, teria dito.
Em seguida, lembrou do sacrifício pessoal que fez para apoiar Bolsonaro.
Entre outras coisas, durante a campanha, deixou de visitar o pai em estado grave de saúde no hospital, para cumprir as missões que eram dadas.
Para ele, a diretoria em Itaipu era um prêmio de consolação que não aceitava.
Sempre de acordo com esse relato, Bebianno deixou a reunião e, em seguida o vice-presidente, general Hamílton Mourão, foi atrás e o alcançou no corredor.
Pediu a Bebianno que refletisse e apelou para sua colaboração a fim de não prolongar a crise.
Mais tarde, Bebianno soube pela televisão que Bolsonaro havia decidido demiti-lo.
Com o comportamento que está tendo, se for demitido e recuar, o ministro ficará completamente desmoralizado.
Mas, se levar adiante as ameaças, poderá ser o principal agente de mudanças que devolvam Bolsonaro ao lugar de onde nunca deveria ter saído.
Pode ser no seio da sua família ou com seus amigos milicianos, à espera de um ajuste de contas que talvez venha.
Bolsonaro não tem condições de exercer a Presidência da República.
Enquanto permanecer no Planalto, as crises se sucederão.
Esta, por exemplo, vai se agravar se, por alguma razão, Bolsonaro ceder à pressão — ou chantagem — e manter Bebbiano.
Nesse caso, ele perderá o mínimo de autoridade que ainda lhe resta.