Consulte qualquer manual básico de curso de assessoria de imprensa por correspondência para logo perceber a regra número 1 da profissão: jamais bater de frente com jornalistas e veículos de comunicação. Bater de frente com a TV Globo, com 45 dias de governo, aí já é caso patológico de distúrbio mental.
Vamos deixar de lado o despreparo para o exercício da função, decoro, espírito público, coisas assim.
Indo direto ao ponto, é preciso dizer que só uma deturpação mental muito severa para explicar o ódio de Bolsonaro por Gustavo Bebianno em função do secretário geral da Presidência ter aberto diálogo com a Globo para melhorar a relação entre a empresa e o Palácio do Planalto.
“Como você coloca nossos inimigos dentro de casa?”, berrou Bolsonaro após descobrir que o auxiliar teria recebido, em sua sala no Palácio do Planalto, o vice-presidente de Relações Institucionais do Grupo Globo, Paulo Tonet Camargo.
A conversa era parte de um plano de Bebianno para abrir um canal de diálogo com a emissora já que desde a campanha a relação entre Bolsonaro e Globo é péssima.
A situação se agravou após o caso das movimentações bancárias atípicas feitas pelo então deputado estadual e hoje senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) – filho do presidente– e seu ex-assessor Fabrício Queiroz investigadas pelo Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras).
O encontro com Paulo Tonet Camargo teria sido o estopim que levou Carlos Bolsonaro a organizar com o pai um plano mequetrefe para fritar Bebianno.
Vazaram áudios, desmentiram o secretário geral, usaram a TV Record de escada, fizeram o diabo.
Junto com o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, Gustavo Bebianno está envolto em denúncias de práticas irregulares na campanha eleitoral do ano passado. São suspeitos de terem desviado recursos do fundo partidário por meio de candidaturas “laranjas”.
Por causa da iniciativa de se aproximar da Globo, Bebianno caiu em desgraça com o presidente e por isso está sendo jogado à própria sorte.
Reclama que o tratamento que recebe não é o mesmo dispensado ao colega do Turismo.
Bebianno vem dizendo a amigos que vai retaliar caso se sinta prejudicado. “Se eu cair, levo junto o presidente”, alertou.
Nesta semana, precavido, Carlos Bolsonaro exonerou nove assessores do seu gabinete na câmara de vereadores do Rio. Carlos e Bebianno se odeiam.
Ao expor a crise de forma tão grosseira, Bolsonaro e o filho conseguiram colocar boa parte da opinião pública, analistas e praticamente cem por cento do mundo político ao lado de Bebianno.
Pai e filho ficaram só na louca cavalgada de derrubar um membro do governo pelo simples motivo dele ter conversado com um executivo da principal emissora de TV do país. Dialogar com a imprensa e tentar ajustar arestas de comunicação virou crime no Brasil dos Bolsonaros.
Desviar recursos públicos de campanha por meio de candidaturas laranjas pode, como está claro no silêncio dispensado às práticas adotadas em Minas pelo ministro do Turismo.
Gustavo Bebianno tem um encontro marcado com o Diário Oficial da União nesta segunda, 18. Na seção de despachos de Bolsonaro pode estar contida a sua exoneração.
Ele promete sair atirando. História para contar tem. E a Globo, que não tinha nada com isso mas acabou envolvida, certamente terá interesse em ouvir.
Carlos Bolsonaro é um péssimo estrategista de comunicação. Subverteu regras elementares da profissão: fez o pai brigar com uma emissora, expôs isso em público e ainda jogou aos leões um aliado que estava apenas cumprindo seu papel.
Carlos e Jair viraram reféns de si mesmos. Não têm envergadura mental para lidar com rotinas simples de governo. Que se dirá de questões centrais de Estado envolvendo os destinos de 200 milhões de brasileiros.
Precisam ser interditados, urgentemente. Sob o risco de colocarem fogo no país.