Publicado originalmente no Blog do Kennedy
POR KENNEDY ALENCAR
Na crise venezuelana, o vice-presidente Hamilton Mourão age, corretamente, para frear os ímpetos por jogos de guerra do presidente Jair Bolsonaro e do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. A posição e o destaque de Mourão, chefiando a missão brasileira na reunião do Grupo de Lima, refletem a ação dos militares do primeiro escalão do governo para enquadrar Bolsonaro e Araújo.
É inacreditável que os militares ajam como bombeiros enquanto o Itamaraty atua como incendiário.
Importante notar: Mourão vivia reclamando de não ter atribuição de poder real no governo. Hoje, comandou a missão brasileira em Bogotá (Colômbia), onde se reuniu o grupo de Lima com participação do vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence. O vice brasileiro recebeu de Bolsonaro a primeira missão com poder de fato.
Mourão deu um baita chega para lá nos EUA, criticando eventual intervenção militar estrangeira na Venezuela e descartando o uso do território brasileiro para eventual tentativa nesse sentido.
Ministros militares do Brasil discordam do alinhamento automático do país aos Estados Unidos, movimento estimulado pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-PE), filho do presidente da República.
É óbvio o interesse geopolítico de Washington nas maiores reservas de petróleo do planeta, que se encontram na Venezuela. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deseja instalar em Caracas um governo afinado com os seus interesses.
Mourão faz uma correção de rumo na posição brasileira sobre a Venezuela, que ainda está distante da ideal. O chavismo chegou ao poder democraticamente, mas manipulou regras da própria democracia para solapá-la. Hoje, há um governo autocrático na Venezuela. O país virou uma ditadura, exemplo descrito no livro “Como as Democracias Morrem”, leitura fundamental para políticos e jornalistas do Brasil.
A oposição venezuelana tem tradição golpista. É claro que manifestantes não podem ser reprimidos por um governo autoritário, mas o Brasil deveria agir como mediador, condenando a direção que Nicolás Maduro deu ao país e pedindo eleições livres com observadores internacionais.
Brincar de jogos de guerra não atende ao interesse nacional. O freio militar de Mourão a esses ímpetos é positivo em contexto tão pouco animador e no qual o Brasil se meteu porque o governo Bolsonaro cria as próprias crises, como a que resultou na demissão do ministro Gustavo Bebianno, que provou que o presidente da República mentira ao negar ter conversado com ele sobre o laranjal do PSL etcétera e tal.